A Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS), desenvolveu e colocou em prática no ano passado um projeto inovador visando ao melhoramento genético de tourinhos nelore. É a primeira vez no Brasil que uma experiência se propôs a avaliar em escala a capacidade de conversão de alimentos dos bovinos.
Os resultados foram apresentados no final de dezembro do ano passado e, por conta do interesse e da aprovação unânime dos pecuaristas participantes das três etapas que constituíram o estudo, o órgão decidiu recomeçá-lo já no próximo mês. “A Embrapa avaliou e comprovou a real capacidade da raça zebuína converter comida em peso. Comer menos, para ganhar carcaça e produzir mais carne, é essencial para a rentabilidade da pecuária”, explica Cleber Soares, chefe-geral da unidade de Mato Grosso do Sul.
A chamada Prova de Avaliação de Desempenho do Nelore (PADN) teve a participação de 305 animais de 14 fazendas dos Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná e Tocantins. As propriedades integram o Programa Geneplus Embrapa de melhoramento genético.
As etapas do projeto tiveram início nos pastos de três fazendas que abrigaram os touros. Feita a seleção a campo, os melhores machos deram entrada na planta de confinamento da Embrapa para a avaliação final. A engorda no cocho – decisiva – durou 77 dias. O gado permaneceu 21 dias em período de adaptação e 56 dias fechado. “Nas fazendas, a avaliação foi feita até o sobreano (mais de um ano). Quando estavam com 21 meses de idade, em média, os animais ingressaram no confinamento”, diz Luiz Otávio Campos da Silva, pesquisador da Embrapa e gerente do Geneplus.
O confinamento dispõe do que há de mais moderno em tecnologia. É inteiramente automatizado. O animal é identificado e recebe um chip eletrônico na orelha logo na entrada. “O sistema de monitoramento do consumo de ração é efetuado diariamente em tempo real durante 24 horas, por meio de sensores instalados nos cochos. Toda informação sobre o que o animal come é transferida para um sistema e imediatamente computada”, explica Luiz Otávio. Segundo ele, o advento da tecnologia foi um passo decisivo no sentido de permitir o conhecimento preciso do que o boi está comendo e transformando em peso. “Até então, o trabalho era manual. Havia muitas dificuldades. Agora, além da precisão na coleta e estudo dos dados, o estresse de manejo no curral diminuiu, e muito”, afirma.
A avaliação evolui da conversão alimentar ao ganho de peso diário e ao peso final dos animais. A Embrapa explica que a ênfase é dada à capacidade de eficiência dos tourinhos em relação à conversão em peso do que comem, porém, o estudo abarca outras características reprodutivas, como perímetro escrotal, carcaça, área de olho, de lombo, espessura de gordura, marmoreio e conformação frigorífica. São exigências da pecuária moderna.
GANHO DE PESO
A média de ganho de peso diária dos tourinhos avaliados pelo programa foi de 1,917 quilo. Alguns animais chegaram a ganhar 3,066 quilos.
Luiz Otávio revela ainda que a PADN procura estudar o genoma desses touros. “Estamos fazendo também a seleção genômica, para dar maior precisão na escolha dos animais geneticamente superiores quanto à eficiência alimentar, entre outras características.” As informações aumentam a acurácia das avaliações dos bovinos.
No confinamento, segundo Luiz Otávio, a ração é responsável por 50% da energia do animal. A Embrapa usou também silagem de sorgo e grãos como milho, casquinha de soja e soja na alimentação, complementados por um núcleo alimentar. O resultado final agradou Luiz Otávio e Cleber Soares. A média de ganho de peso diária dos tourinhos foi de 1,917 quilo. Teve animal que chegou a ganhar 3,066 quilos ao dia. Como comparação, cita Cleber, no período das águas, ou seja, em boas condições e a pasto, é comum um rebanho nelore ganhar, em média, de 800 a 900 gramas diariamente. Para o chefe-geral, uma das conquistas relevantes da prova é, agora, perfilar a nelore ao lado de outras raças, cujas avaliações são efetuadas e divulgadas há décadas. Caso das europeias.
“Os dados da Embrapa ajudam a selecionar os animais com maior potencial produtivo. Um touro que ganha mais peso comendo menos consegue transmitir as características aos descendentes”, afirma Luiz Otávio. Esta é a proposta: identificar animais geneticamente superiores e com capacidade para se tornarem reprodutores jovens, diz ele.
Segundo Luiz Otávio, esses animais avaliados e aprovados retornam agora às fazendas de seus donos. No futuro, serão usados como reprodutores. O estudioso adianta que várias centrais de inseminação artificial estão interessadas neles.
RESULTADO DE PARCERIA
O Programa Geneplus é fruto da parceria entre a Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS), e a iniciativa privada. Seus bons resultados mostram que o trabalho conjunto tornou mais fácil para a Embrapa difundir conhecimentos e novas tecnologias. E todo o setor no Brasil reconhece a importância do órgão para o grande salto de qualidade que a pecuária de corte experimentou nos últimos anos.
Desde a fundação da Embrapa Gado de Corte, em julho de 1977, os pesquisadores da área de melhoramento do gado tinham a convicção de que, para o aprimoramento tornar-se concreto, seria necessária a atuação direta nos rebanhos de seleção, explica o chefe-geral do órgão, Cleber Soares.
Foi exatamente o que aconteceu com a Prova de Avaliação de Desempenho do Nelore – houve vários outros exemplos –, projeto que, por conta de seu êxito, está sendo repetido neste ano. Já em 1979, a Embrapa firmou convênio de cooperação técnica com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). É importante lembrar que a nomeação, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Embrapa como gerente do Arquivo Zootécnico Nacional, em 1987, permitiu que os sumários nacionais das raças zebuínas passassem a ser editados periodicamente, facilitando o acesso aos pecuaristas. São pelo menos 100 as fazendas que integram o Programa Geneplus. (Do Portal do Agronegócio)
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