Carina Rufino, Lebna Landgraf e Gabriel Faria
DE GOIÂNIA (GO)
Os avanços obtidos pela pesquisa agropecuária no Brasil nos últimos 40 anos foram enaltecidos nos discursos realizados na abertura do VIII Congresso Brasileiro de Soja, na noite desta segunda-feira, no Centro de Convenções de Goiânia (GO). O evento é promovido pela Embrapa Soja e nesta edição tem como tema “Inovação, tecnologias digitais e sustentabilidade da soja”.
Os avanços na produtividade e a transformação do país importador de alimentos em um dos maiores exportadores do mundo foram lembrados, sempre apontando o desenvolvimento da pesquisa feita tanto pela Embrapa, quanto pelas universidades e pela iniciativa privada, como propulsores desse salto produtivo.
“O Brasil conseguiu mudar a história de sua produção agrícola de forma sustentável e hoje é capaz de alimentar até sete vezes sua população. O que o país fez nessas últimas quatro décadas não tem precedentes em lugar nenhum do mundo”, apontou o presidente em exercício da Embrapa, Celso Moretti.
A cultura da soja é um dos maiores exemplos desse salto tecnológico e produtivo. Oriunda do norte da China, a oleaginosa hoje é cultivada até mesmo em cima da linha do Equador e cada vez com maior potencial produtivo. O presidente da Emater-GO Pedro Arraes destacou como a planta teve sua arquitetura alterada, ciclo de vida reduzido e características de resistência e tolerância a pragas e doenças desenvolvidas.
O prefeito de Goiânia Iris Rezende Machado lembrou de sua infância no campo, quando o Centro-Oeste brasileiro era tido como área improdutiva e ressaltou como a tecnologia transformou a realidade da região.
O presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Bráz destacou ainda que todo esse avanço tem sido feito de maneira sustentável e que o Congresso é uma forma de mostrar como se produzir com eficiência e de maneira correta.
Em seu discurso de abertura, o pesquisador da Embrapa e presidente do Congresso, Alexandre Cattelan, falou sobre a possibilidade de o Brasil se tornar já na próxima safra o maior produtor de soja do mundo e ressaltou como a cultura é importante para a economia do país.
“O agronegócio tem possibilitado o superávit do agronegócio brasileiro e a soja é o carro chefe desse agronegócio. Além disso, a soja tem contribuído também significativamente para o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] das regiões produtoras. Com isso, aumentando a qualidade de vida das pessoas nas regiões de expansão agrícola”.
Catellan destacou o caráter estratégico da soja para o Brasil e diante disso defendeu o investimento em pesquisa pública para garantir a independência tecnológica nacional.
“A pesquisa pública se preocupa com todos os aspectos produtivos e não somente com aqueles que geram lucro. Cabe a toda a sociedade defender o investimento em pesquisa e acompanhar as decisões que podem afetar isso”, lembrou.
Tendências de mercado
Na conferência de abertura do Congresso, o agrônomo, doutor em economia agrícola e professor da Fundação Dom Cabral Alexandre Mendonça de Barros fez uma análise do cenário internacional e como ele afetará o mercado da soja.
De acordo com ele, as medidas protecionistas adotadas pelo presidente norte-americano Donald Trump hoje estão sendo benéficas para a soja brasileira e tendem a continuar assim a curto prazo.
Entre os efeitos da política dos Estados Unidos, maior produtor mundial de soja, estão a valorização do dólar frente à outras moedas, inclusive o real, e a sobretaxação feita pela China à soja norte-americana como forma de retaliação. Com isso, os chineses passaram a procurar com maior intensidade a commodietie no Brasil.
Além da maior demanda chinesa, que tem elevado os preços, outro fator que influenciou de maneira positiva o mercado da soja no Brasil foi a quebra da safra argentina.
Mendonça de Barros também mostrou que a demanda mundial por soja cresceu cerca de 5% no último ano e deve continuar crescendo. Com isso, a tendência é de que os preços continuem elevados.
Entretanto, ele também apontou que, da mesma forma com que a China aumentará sua dependência da soja brasileira, o Brasil deve se tornar cada vez mais dependente dos chineses na venda. Isso porque tradicionais compradores de soja, como Rússia e países do leste europeu estão aumentando suas produções da oleaginosa e se tornando autossuficientes.
Outra preocupação apresentada pelo analista é o aumento dos custos com frete devido à criação de uma tabela única de preços. A elevação dos custos, tanto para chegada de insumos quanto para o escoamento da produção, pode reduzir ainda mais as margens de lucro dos produtores.
Congresso
O VIII Congresso Brasileiro de Soja vai até quinta-feira e reúne mais de 2.000 pessoas envolvidas em todas as etapas da cadeia produtiva da soja. Ao longo de quatro dias o evento terá cinco conferências, 16 painéis temáticos, 50 palestras, além de 340 trabalhos científicos apresentados em forma de pôsteres. Acompanhe mais informações sobre o CB Soja 2018 em www.cbsoja.com.br. (Da Embrapa Soja)
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