DANIEL MACHADO E CRISTIANO MACHADO
DE PALMAS (TO)
Apesar de praticamente não promover investimento por parte da Seagro (Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Tocantins), o governador cassado Marcelo Miranda (MDB), em vídeo de despedida de 2min18seg, destacou alguns avanços rurais que, segundo ele, ocorreram na gestão que comandou de 2015 até esta terça-feira, 27 de março de 2018.
Na mensagem, Marcelo não cita a Seagro e nem qualquer valor financeiro da pasta. Tampouco faz referência direta aos outros órgãos do setor. O espaço reservador para o campo é de cerca de 20 segundos.
“Deixamos a agricultura familiar mais forte. Aumentamos mais de 300% a entrega de títulos de regularização fundiária. Na região Sudeste, colocamos fim ao sofrimento com a seca que assola os municípios. Entregamos mais de 11 mil cisternas, além das barraginhas, que ajudam o produtor rural a manter plantações e animais”, destacou o político.
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O pagamento de investimento da Seagro já havia despencado de 2015 para 2016, caindo 84,95%, conforme havia informado o Norte Agropecuário. Mas, em 2017, a situação foi muito pior, com a pasta pagando apenas R$ 689 mil de um total de mais de R$ 23,3 milhões.
Na época da reportagem, o governo deu uma série de explicações, entre elas que o investimento era maior, pois não se poderia considerar apenas os valores pagos e que outras pastas da administração estariam fazendo investimentos.
O governo atual chega ao fim também sem apresentar um balanço, com números e dados em relação aos feitos na área agrícola. Em abril do ano passado, o Norte Agropecuário publicou reportagem com produtores e empreendedores do campo de diversas regiões do Estado. Eles disseram o que a gestão estadual deveria fazer para atender aos anseios da classe produtora. Eles esperavam do governo do Estado menos burocracia, infraestrutura, carga tributária justa e atração de indústrias.
O governador do Estado, na época, não quis se pronunciar, a pedido do Norte Agropecuário em relação aos temas levantados pela classe produtora.
GESTÃO SEM COMANDO
O governo do Estado amanheceu a terça-feira, dia 27, sem comando em todas as secretarias. Motivo: exoneração de 70 gestores, entre secretários, secretários executivos, presidentes e vice-presidentes de autarquias e fundações. Todos são membros do primeiro escalão do governo Marcelo Miranda.
A falta de gestores também atingiu as pastas relacionadas ao agronegócio do Estado, que tem no setor a principal atividade econômica e vê no campo a fonte que mantém os números positivos da balança comercial. Isso porque entre os demitidos estavam os titulares e chefes imediatos da secretaria da Agricultura, da Adapec (Agência de Defesa Agropecuária) e Ruraltins (Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins).
A publicação das exonerações foi feita na noite dessa segunda-feira, dia 26. Porém, a medida vale para esta terça-feira, dia 27. A formalização das exonerações ocorreu no dia que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou o acórdão do julgamento que culminou com a cassação do mandato do governador Marcelo Miranda e de sua vice, Cláudia Lélis, por crime de “caixa dois” na campanha de 2014. O TSE determinou ainda eleições suplementares no Estado. Nesta terça-feira, dia 27, o presidente da Assembleia Legislativa do Tocantins, Mauro Carlesse, assume o governo interinamente. Ele deve dar posse aos membros do primeiro e segundo escalões do governo transitório.
PREJUÍZOS AO SETOR
O Norte Agropecuário procurou ouvir representantes e líderes do agronegócio sobre os prejuízos ao setor com a instabilidade política no Tocantins. O presidente da Coapa (Cooperativa Agroindustrial do Tocantins), Ricardo Khouri, lamentou que o Estado tenha sofrido a terceira interrupção de gestão do Palácio Araguaia num intervalo de menos de nove anos, com reflexos para todos os setores.
Para ele, o setor produtivo, como um todo, sofre as consequências. “O que nos causa preocupação e apreensão é que pela terceira vez sofremos interrupção de governos. Isso causa estranheza muito grande no público fora do Estado, que é o público que atuamos”, disse, se referindo ao fato da perplexidade com a insegurança jurídica no Estado de investidores de outros Estados e países que compram os produtos agrícolas produzidos no Tocantins.
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