A fase da cria é a fase diretamente dependente dos índices reprodutivos. É desenvolvida, em sua grande maioria, em Sistemas Extensivos caracterizados pela utilização de pastagens nativas e cultivadas como únicas fontes de alimentos, complementadas com suplemento mineral. Esse grupo representa em torno de 80% dos sistemas produtivos de carne bovina brasileira e apresenta uma alta variação de desempenho. Os sistemas extensivos são praticados em todo o País com destaque para Cerrados de Roraima e do Amapá, nos campos inundáveis da ilha de Marajó, do Baixo Amazonas e do Maranhão, na Caatinga do Semiárido, no Pantanal e no sul da Campanha Gaúcha.
Sistemas extensivos de cria podem, devem e incorporam tecnologias. Um exemplo seria a atividade de cria no Bioma Pantanal realizada majoritariamente em pastagens nativas e com baixa taxa de lotação, mas que pode adotar técnicas contemporâneas de reprodução, genética, nutrição e gestão, tais como inseminação artificial em tempo fixo, sêmen refrigerado de touros de alto mérito genético, cruzamento industrial, creep-feeding, identificação eletrônica individual, dentre outras. Da mesma forma, há a possibilidade de alguns sistemas serem altamente tecnificados em determinada vertente, sem que necessariamente explorem todo o potencial tecnológico de outra.
A reprodução animal é um dos destaques nas pesquisas científicas, sempre com o objetivo de melhorar seus resultados, recebe, a cada ano, mais investimentos. E nesse contexto, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) é a biotecnologia reprodutiva que mais cresceu em utilização no Brasil nos últimos 20 anos, principalmente, na cadeia produtiva da carne bovina.
Em 2021, mais de 90% das inseminações foram realizadas em tempo fixo, com a comercialização de mais de 26 milhões de protocolos hormonais. Trata-se de um aumento expressivo, pois, há 20 anos, apenas entre 5 e 6% do rebanho bovino brasileiro era inseminado. Hoje, mais de 20% do rebanho passa por esse processo, um crescimento significativo para a cadeia pecuária como um todo.
A IATF consiste em sincronizar a ovulação das fêmeas por meio de uso de fármacos aplicados em dias e dosagens estabelecidas, com o intuito de inseminá-las sem a necessidade de observação do cio/estro. O índice de prenhez médio obtido com essa técnica atingiu o patamar desejado de 50%, o que garante ao sistema de produção uma favorável relação benefício/custo.
A Inseminação Artificial (IA) possui importantes vantagens como: favorecer o melhoramento genético do rebanho em menor tempo; redução do custo com doses de sêmen de reprodutores avaliados para a produção de leite e carne; controle de transmissão de doenças que poderiam acontecer pela monta natural; utilização de touros com problemas adquiridos e impossibilitados de efetuarem a monta; obtenção de maior número de descendentes de um mesmo reprodutor; padronização do rebanho; nascimento de filhos após a morte do reprodutor, face à possibilidade de congelamento e estocagem de sêmen e facilidade para realizar cruzamentos direcionados. Quando abordamos a IATF, outras vantagens se sobressaem como: não necessidade de observação de cio; indução da ciclicidade em fêmeas em anestro; redução do intervalo de partos; homogeneidade dos lotes; sincronização de concepções e nascimentos; racionalização da mão de obra com as inseminações com dia e hora marcados; o que tem reduzido muito os problemas relacionados às questões trabalhistas.
A IATF é uma biotécnica que está consolidada. Os protocolos hormonais de diferentes empresas estão validados e são amplamente utilizados. Técnicos e produtores conhecem os fatores que podem interferir no bom resultado de prenhez, tais como: baixo escore de condição corporal; má qualidade do sêmen; inseminador pouco capacitado; falhas nas aplicações dos protocolos (na dosagem e/ou no dia); falta de infraestrutura; equipe sem comprometimento e baixa qualidade e/ou quantidade dos touros de repasse. Ou seja, os pontos-chaves para um bom desempenho reprodutivo são conhecidos, demonstrando que definitivamente a inseminação artificial é uma ferramenta fundamental para o bom desempenho da pecuária brasileira, destacando o País no cenário mundial. Apesar da importância e do impacto positivo da IA, o uso de touros, em monta natural, mesmo que com valor reprodutivo e genético questionáveis, ainda é a escolha predominante de reprodução utilizada no País. Por isso, o investimento com a aquisição e manutenção de touros é ponto importante a ser considerado quando abordamos a cadeia como um todo.
O touro deve ser adquirido considerando-se os critérios que interessam ao sistema de produção, o que é fundamental para aumentar a produtividade. Assim, é sempre indicado o uso de reprodutores e/ou sêmens de indivíduos bem avaliados do ponto de vista genético, de características relevantes para o sistema de produção (como, por exemplo, peso da desmama e/ou ao sobreano, perímetro escrotal, idade ao primeiro parto, precocidade, musculosidade, área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, marmoreio, etc).
Quando abordamos o ciclo pecuário completo (cria, recria e engorda), fica claro entender a importância da reprodução animal, pois, se não há nascimentos, não há engorda. E tão importante quanto a quantidade de nascimentos é a qualidade desses produtos. Os avanços tecnológicos e a organização da cadeia tiveram expressivo reflexo na qualidade da carne, em razão da crescente adoção de tecnologias pelos produtores rurais, principalmente, em se tratando de nutrição, genética e reprodução. E, nesse ponto, o impacto com o uso de bons reprodutores (ou seja, geneticamente bem avaliados), tanto para utilização via IATF quanto para o uso no repasse tem papel essencial. Em 2021, o valor médio estimado do protocolo de IATF foi de R$23, com a dose de sêmen de um reprodutor bem avaliado geneticamente entre R$25 e R$28. Já o valor médio de venda de touros avaliados geneticamente foi de R$22 mil a R$25 mil reais. Logo, quanto maior o índice de prenhez ao final da estação de monta, melhor será o retorno do capital investido (ROI).
Uma alternativa para aumentar o número de animais nascidos de reprodutores com alto mérito genético adquiridos em leilão, e que irão para o repasse nas fazendas, é intensificar o uso do sêmen refrigerado deles em IATF na propriedade. Sabe-se que há aumento significativo de prenhez com o uso de sêmen refrigerado quando comparado ao sêmen congelado, em razão das perdas e danos aos espermatozóides durante o processo de criopreservação.
Sendo assim, o uso de sêmen refrigerado pode aumentar a quantidade de nascimentos, em menor período de tempo, acelerando o retorno sobre o investimento financeiro com o reprodutor e a biotecnologia utilizada. Ou seja, é uma boa alternativa para quem conta com mão de obra qualificada para manipulação do sêmen, concomitantemente, com a utilização da IATF, agregando aumento de produção e produtividade.
Um aspecto fundamental da utilização da IATF com sêmen refrigerado é o momento exato da inseminação. É possível controlar e ajustar o tempo de coleta do sêmen em função dos lotes agendados para a inseminação. Os médicos veterinários que atuam na prestação de serviço de IATF poderão agregar ao seu portfólio o processamento do sêmen refrigerado.
Cabe ressaltar que o uso do sêmen dos reprodutores que estão em centros de coletas e processamento de sêmen são sempre indicados para que ocorra o maior ganho genético dos animais da próxima geração. No entanto, abre-se uma alternativa de incrementar os índices zootécnicos com a utilização do sêmen refrigerado de reprodutores com mérito genético na IATF.
Quando pensamos que mais de 80% do rebanho ainda utiliza a monta natural, inclusive com reprodutores de qualidade duvidosa, vemos que existe mercado para ser expandido. A IATF pode crescer, como tem acontecido, ano a ano, tanto com os tradicionais sêmens de centrais (congelado) quanto com sêmens refrigerados de animais bem avaliados geneticamente, o que aumenta também o investimento e uso de reprodutores melhoradores, causando efeito somatório para toda a pecuária. A média mundial de matrizes de corte e leite inseminadas, segundo a literatura, é de 22%, valor que o Brasil acabou de ultrapassar.
Outra questão que tem se tornado realidade e se caracterizado em mais um importante avanço para os índices reprodutivos é a utilização de tourinhos de 14 meses com avaliação genômica. Esses animais estão sendo utilizados em estação de monta com sêmen refrigerado, o que tem possibilitado encurtar o ciclo produtivo, aumentar o número de animais mais produtivos e permitido maior acurácia, ou seja, aumentando a confiança ao se utilizar um animal jovem com mérito genético. Antes, sem a avaliação genômica, demorava-se de 4 a 5 anos para saber se aquele animal seria um reprodutor melhorador.
A precocidade (tanto da fêmea quanto do macho) é um dos mais importantes parâmetros de escolha para a melhoria da eficiência de sistemas de produção de bovinos de corte. Por isso, há grande interesse econômico em se obter a entrada dos animais jovens (precoces) à idade reprodutiva e, consequentemente, ao ciclo de produção, seja pela produção de bezerros ou pela de carne, e, ainda bem, temos avançado nesse caminho. A união de esforços para avaliação e seleção de animais geneticamente melhoradores, com estratégias nutricionais mais eficazes, para incremento do desempenho e ganho de peso e utilização de biotécnicas reprodutivas, leva ao aumento da qualidade e produtividade do rebanho bovino brasileiro. Clique aqui e confira o boletim. (Da Embrapa)
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