Por Gustavo Spadotti Amaral Castro
Engenheiro agrônomo, doutor em Agricultura (Fitotecnia) e chefe-geral da Embrapa Territorial.
No dia 26 de abril, a Embrapa completou 50 anos. Na esteira da história, a Empresa possui o justo reconhecimento de se posicionar à fronteira da ciência, gerando conhecimentos e soluções responsáveis por mudanças contundentes na agropecuária brasileira. Este processo possibilitou a saída do País da condição de importador de alimentos para tornar-se o maior exportador líquido de alimentos do mundo, mantendo um equilíbrio entre a competitividade da produção e a sustentabilidade da preservação ambiental. Atenta às necessidades dos produtores rurais e acompanhando a evolução científica e tecnológica, a Embrapa ampliou o seu campo de atuação, incorporando novas temáticas e fundando centros de pesquisa que tornaram-se referência em suas áreas.
O histórico de motivação da criação da Embrapa Territorial está diretamente relacionado à necessidade de superar os desafios enfrentados pela agricultura brasileira na época. Naquele ano de 1989, o setor agropecuário colhia os primeiros frutos da criação da Embrapa e tinha no aumento da produção de alimentos, fibras e energias um dos principais motores da economia brasileira. Mas o desenvolvimento do setor encontrava ameaças, como a falta de informações precisas e confiáveis sobre o uso e ocupação do solo; a carência de dados para o planejamento territorial, e a ausência de um sistema de informação territorial integrado. A partir de sua fundação, o centro de pesquisa se firmou como instrumento estratégico do Estado Brasileiro para geração de informações direcionadas ao desenvolvimento agropecuário sustentável do País.
Ao longo de sua história, a Embrapa Territorial tornou-se referência no fornecimento de informações estratégicas para políticas públicas e privadas focadas no Agro e no desenvolvimento de tecnologias para a análise integrada que apoiam na identificação de áreas mais adequadas para a produção agrícola, pecuária e florestal em equilíbrio com a natureza e as comunidades presentes em nossos territórios.
As principais soluções tecnológicas desenvolvidas pela unidade apoiam-se no uso de sistemas de informação geográfica (SIG) e Data Science, o que permite a análise integrada de dados anteriormente dispersos em órgãos públicos e privados garantindo êxito nas iniciativas de gestão territorial. O centro também estuda modelos matemáticos como ferramentas para a análise e previsão de fenômenos agrícolas, como o crescimento de culturas, uso da terra e impactos na vida dos produtores rurais. Tudo isso focado nos conceitos de inovação aberta, uma tendência global que tem sido adotada pela Embrapa Territorial, por meio da parceria com outras instituições de pesquisa e empresas, para desenvolver soluções tecnológicas inovadoras.
Com o apoio de imagens de satélite e informações sobre o uso da terra, a unidade constantemente monitora e acompanha a expansão da agricultura e pecuária, ajudando a planejar o equilíbrio entre nossas safras e rebanhos e a biodiversidade. De forma sinérgica, os seus trabalhos também focam esforços para equalizar os ganhos produtivos a ganhos logísticos, fundamentais para manter a competitividade da produção agropecuária nos pontos de consumo interno e também nos terminais agroexportadores. A unidade também desenvolve tecnologias para os zoneamentos ecológico-econômico (ZEEs), que possibilitam identificar as melhores áreas para os cultivos, e para a análise do potencial produtivo das terras, que ajudam a maximizar a eficiência dos sistemas de produção nos estados da federação.
Para manter-se na vanguarda, a Embrapa Territorial está sempre em busca de novas tecnologias para aprimorar o trinômio inteligência, gestão e monitoramento territorial. Suas soluções prosperaram ao longo do tempo com a incorporação de inovações no sensoriamento remoto, no monitoramento ambiental, na modelagem matemática e na inteligência artificial. E essa evolução é essencial. A dinâmica da produção agropecuária e o crescente volume de dados gerados sobre o território brasileiro impõe a necessidade de desenvolver novas tecnologias para lidar com o chamado Big Data de forma a permitir análises mais precisas e a tomada de decisão mais eficiente. Além disso, a aplicação de técnicas de inteligência artificial é uma tendência global e pode ser usada para otimizar o uso da terra, melhorar a eficiência das culturas e aprimorar a tomada de decisão em diversas áreas da agricultura.
Dentre as soluções mais recentes do centro, destaca-se o método para análise e divulgação das informações coletadas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades rurais no País. Com este instrumento de regularização ambiental, foi possível descortinar e dimensionar o papel dos produtores rurais na preservação da vegetação nativa e dos recursos naturais.
A instituição constantemente revisita e atualiza o método da ITE (Inteligência Territorial Estratégica), base para as soluções tecnológicas que desenvolve. Isso permite uma análise mais precisa, eficiente e integrada de cinco quadros: natural, agrário, agrícola, socioeconômico e infraestrutura. Dessa forma, são geradas informações circunstanciadas dos territórios, identificando ameaças e oportunidades potenciais para suas particularidades. Tal análise se mostra fundamental para ações estratégicas, táticas e operacionais da gestão do setor agropecuário, destacadamente para as especificidades de cada um dos nossos territórios da agropecuária.
Ao longo das décadas, a Embrapa Territorial atuou para solucionar desafios presentes na gestão territorial e no planejamento do país. Para ordenar a expansão agropecuária, o centro forneceu subsídios técnico-científicos para o uso da terra de forma mais sustentável. A unidade promoveu análises dos processos de queimadas e desmatamentos no Bioma Amazônia e desenvolveu novas técnicas de monitoramento do clima e da cobertura vegetal. No âmbito da política ambiental, foi protagonista em debates, discussões e conquistas, desde a Eco92 até o Novo Código Florestal, fornecendo dados e informações sobre a ocupação das terras bem como projeções a respeito das propostas apresentadas quanto ao comprometimento dos produtores na destinação de áreas à preservação ambiental. E no desafio para a integração de dados, atuou para desenvolver novas tecnologias, por exemplo, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), permitindo uma análise mais completa do território e uma tomada de decisão mais eficiente das políticas e obras públicas.
A Embrapa Territorial sempre manteve um olhar diligente quanto às necessidades do setor produtivo brasileiro. Essa visão atenta, aliada ao acompanhamento da evolução tecnológica, é o nosso diferencial no mercado e nos deixa preparados para atender às demandas do setor no futuro. Dessa forma, seguiremos como instrumento estratégico do Estado e mostraremos, para nossa população e para a comunidade internacional, que no Brasil: produção e preservação caminham de mãos dadas!
(Da Embrapa)
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