O sorgo-biomassa vem se destacando em nível global como alternativa sustentável para a geração de energia. No Brasil, apesar do grande potencial para cultivo dessa planta, a alta umidade e a baixa densidade da biomassa dificultam o transporte e a queima, prejudicando a logística de transporte, armazenamento e automação pela indústria. A Embrapa vem trabalhando, desde 2014, para oferecer ao setor soluções que amenizem esse problema e contribuam para a transição energética no País. Entre elas, apresentadas na publicação "Sorgo-biomassa como alternativa à madeira para geração de energia", destacam-se a compactação dessa biomassa em briquetes ou pellets e o uso de cultivares de alto desempenho agronômico, entre outras.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Florestas (PR) Marina Morales, uma das autoras da publicação, “ao caracterizar a biomassa do sorgo, identificamos a necessidade de secagem e densificação para otimização do seu uso. Começamos, então, a fazer briquetes e pellets, tecnologias já consolidadas no Brasil, que consistem em reduzir o volume, aumentando a quantidade de biomassa por metro cúbico. Com isso, é possível otimizar a logística de transporte, armazenamento e automação pela indústria. Quanto à secagem, a biomassa que não é seca fora do forno, será seca dentro dele”.
Outra recomendação dos cientistas é o uso de genótipos com alto desempenho agronômico, como o híbrido BRS 716, desenvolvido pela Embrapa e já em comercialização no Brasil. Estudos realizados em parceria entre unidades da Empresa — Florestas, Agrossilvipastoril (MT) e Milho e Sorgo (MG) —, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), comprovaram várias vantagens da espécie, como a capacidade de se adaptar a diferentes condições edafoclimáticas, poder calorífico desejável, grande produção de biomassa por hectare e a possibilidade de cultivo mecanizado, desde o plantio até a colheita.
De acordo com o pesquisador Flavio Tardin, os estudos da Embrapa com o sorgo-biomassa foram idealizados em 2014, frente a um iminente apagão energético em Mato Grosso. “Verificamos que a pesquisa precisava ser feita pensando em biomassas alternativas à madeira, uma vez que seria difícil convencer produtores da região a trocar suas lavouras anuais de alto retorno econômico, como algodão, soja e milho, por florestas plantadas para fins energéticos que levam até seis anos para colheita”, explica.
O Brasil, um dos maiores consumidores de biomassa para geração de energia, enfrenta pressões para reduzir o uso de combustíveis fósseis, que são responsáveis por altas emissões de carbono. A energia gerada a partir de carvão mineral, gás natural e petróleo, além de finita, apresenta volatilidade de preços e impactos ambientais significativos. “Nesse contexto de busca por fontes renováveis e sustentáveis, a alta produtividade do sorgo-biomassa e seu uso estratégico na forma densificada se mostram como alternativas viáveis à madeira, especialmente em regiões onde o cultivo de espécies florestais enfrenta desafios”, observa Tardin, também autor da publicação.
Produção de briquetes mostra bom resultado em escala industrial
Dados da pesquisa indicaram que a substituição de até 66% da biomassa florestal por sorgo-biomassa densificado em processos de queima pode manter o conteúdo energético equivalente ao da queima de madeira, com teores de cinzas abaixo de 3%. “Nada impede a queima de briquetes e pellets de sorgo-biomassa puro; entretanto, para início de testes na indústria, indicamos alimentar o forno com a mescla de 66% de briquete de sorgo e 34% de cavaco. Experimentalmente, nessas proporções obtivemos um poder calorífico equivalente ao da madeira. Isso abre um leque de possibilidades para as indústrias que buscam diversificar suas fontes de energia e segurança energética”, aponta Morales.
Os primeiros testes em escala industrial para produção de briquetes com o sorgo-biomassa foram realizados em outubro deste ano e mostraram bons resultados. A empresa Calmais, parceira da Embrapa, conseguiu densificar o sorgo-biomassa puro em uma briquetadeira industrial. “O briquete está se formando bem, sem fragmentação, o que indica resultados promissores com essa nova matéria-prima”, diz Tardin.
A empresa começou a pesquisar, há alguns anos, possíveis variedades de plantas para geração de energia e hoje, com o uso de irrigação por pivôs, tem sua própria produção de sorgo-biomassa para fins energéticos. “Plantamos eucalipto na região, que não deu muito resultado porque o solo é raso e a cultura tem uma exigência elevada. O sorgo-biomassa mostra um potencial muito positivo devido à baixa necessidade de água e tolerância ao estresse hídrico, quando comparado a outras culturas. Somos mineradores e a assessoria técnica da Embrapa nos ajuda a encurtar caminhos e minimizar riscos”, destaca o proprietário da Calmais, Antônio Holanda Neto.
A gramínea tem sido usada nas duas fábricas montadas pela empresa, sendo uma para densificação de biomassa (produção de briquetes com sorgo), que abastece a outra para alimentação dos fornos voltados à produção de cal. “O objetivo é oferecer uma cal diferenciada ao mercado, já que a tradicional é produzida com uso de combustíveis derivados do petróleo. Esse produto atende às práticas ESG (sigla em inglês para governança social, ambiental e corporativa), que demandam cada vez mais as empresas no País”, pontua Holanda Neto.
Ele explica ainda que novos testes serão feitos com o sorgo associado a biomassas residuais, como a quenga de coco (casca mais dura), casca da castanha de caju, e de coco babaçu, abundantes na região do Ceará. “Nós, da Embrapa, iremos caracterizar energeticamente essas biomassas, visando otimizar essas queimas puras ou em mesclas”, contam Morales e Tardin.
Avanço com sorgo-biomassa depende de investimento contínuo em PD&I
O estudo da Embrapa sobre o sorgo-biomassa como alternativa à madeira para geração de energia é um passo importante em direção a um futuro mais sustentável. Com suas características únicas e adaptabilidade, essa gramínea pode não apenas atender à crescente demanda por energia renovável, mas também contribuir para a segurança energética do Brasil. “Se houver um déficit de madeira, mas tivermos uma matéria-prima que cresce em 180 dias ou menos, como é o caso do sorgo-biomassa, estaremos promovendo segurança energética com essa biomassa alternativa”, afirma Morales.
Apesar das inúmeras vantagens, o sorgo-biomassa ainda enfrenta desafios. A pesquisa e o desenvolvimento dessa cultura no Brasil têm apenas 14 anos, e é necessário um investimento contínuo em tecnologia e conhecimento para maximizar seu potencial. Além disso, a aceitação do mercado e a adaptação das indústrias para utilizar essa nova fonte de energia são fatores que precisam ser considerados.
À medida que o mundo avança em direção a uma matriz energética mais limpa e sustentável, o sorgo-biomassa se posiciona como uma solução viável e promissora, capaz de transformar o cenário energético do País e garantir um futuro mais verde para as próximas gerações. A pesquisa e o desenvolvimento contínuos nessa área serão fundamentais para consolidar o sorgo-biomassa como uma alternativa real e eficaz à madeira na geração de energia.
Com a colaboração de produtores, indústrias e instituições de pesquisa, o Brasil pode se tornar um líder na utilização dessa cultura, promovendo não apenas a sustentabilidade, mas também o desenvolvimento econômico e social nas regiões onde o sorgo é cultivado. (Da Embrapa)
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