Roberto Samora
DE SÃO PAULO (SP)
O Brasil, uma potência agrícola, precisaria ser menos protecionista em agronegócio para ganhar mais mercados para seus produtos agropecuários, afirmou o ministro de Agricultura, Blairo Maggi, nesta quinta-feira.
“Tenho dito ao setor: se a gente quer vender, a gente precisa querer comprar, o contêiner que leva é o contêiner que traz alguma coisa. Temos de estar abertos a este tipo de situação”, declarou Maggi, após participar do seminário Brasil-China, em São Paulo.
“Se nos julgamos muito competitivos, por que temos medo?”, declarou ele, para emendar: “Tem uma mentalidade nossa de protecionismo, mas a vinda de produtos ajuda o Brasil”.
Ele citou como exemplo o camarão. Segundo o ministro, após uma tentativa de abertura do mercado, produtores foram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para vetar a mercadoria importada.
“Depois de muita luta, abrimos o camarão, os produtores foram ao Supremo para não trazer sob risco ambiental...”, disse ele, citando ainda exemplos da banana do Equador e do trigo da Rússia, este último já liberado também para importação, após os russos fazerem exigências relacionadas ao mercado de carnes.
No passado, Maggi se envolveu em um debate com produtores de café, produto que o Brasil lidera na produção e exportação. Cafeicultores se mostraram contrários à autorização do Brasil para compras externas de café verde, em um período de escassez da oferta do grão do tipo robusta.
O ministro afirmou ainda que está discutindo a abertura do mercado de suínos dos Estados Unidos para o país.
“Isso, para o Brasil, traz vantagens, somos grandes produtores, eles têm custos maiores, por que temos medo de venderem para cá?”, afirmou Maggi.
Segundo áudio da entrevista distribuída pela assessoria de imprensa do ministério, Maggi não tocou no assunto do chamado “custo Brasil” enfrentado por empresários brasileiros, diante de um sistema tributário com alta carga que carece de reformas.
“A China, com todas as dificuldades, ela já está maior na venda de produtos de agro do que o Brasil, porque eles compram, processam e vendem, é isso que tem que ser feito.”
Os chineses, maiores compradores globais de soja, possuem taxas para a importação de farelo de soja, por exemplo, com o objetivo de proteger sua indústria.
Enquanto isso, o sistema de cobrança do ICMS favorece a exportação de matérias-primas, como a soja, em vez de produtos de valor agregado.
CONTRA BARREIRAS
O ministro, contudo, criticou os chineses por imporem barreiras ao açúcar e à carne de frango do Brasil, produtos que o país lidera nas exportações. E reiterou que o governo está decidido em seguir adiante com processos na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a China.
Na semana passada, o Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou, em caráter de urgência, pedido do Ministério da Agricultura de abertura de consultas para questionar na OMC salvaguardas chinesas aplicadas à importação de açúcar.
“Estamos decididos a fazer, não só o Ministério da Agricultura, mas os demais ministros, na área de açúcar e carne de frango, que são as duas coisas que mais nos incomodam.”
Ele disse ainda não ter previsão de quando a Rússia voltará a comprar carnes suína e bovina do Brasil, mas ressaltou que uma das demandas russas, de vender trigo aos brasileiros, já foi viabilizada pelo governo.
A Rússia suspendeu as compras de carnes bovina e suína do Brasil no fim de novembro, após supostamente encontrar vestígios do aditivo alimentar ractopamina em alguns lotes importados.
Ainda na área de carnes, Maggi disse que o governo está tomando “todas as providências” para retomar o mercado da União Europeia (UE). “Estamos criando ambiente novo para reapresentar as empresas, estamos caminhando bem”, disse ele, que ressaltou que no que se refere à produção halal, que segue preceitos muçulmanos, as empresas já estão se adaptando para atender à Arábia Saudita.
Questionado sobre a tabela de fretes mínimos rodoviários, que ampliou o custo do agronegócio e outros setores da indústria, Maggi afirmou que, se nada for feito, a área agrícola do país pode ser reduzida no futuro.
“Este ano não deve ter recuo na safra, pois o produtor já se organizou, ficou protegido com aquilo que já tinha comercializado. Se (o tabelamento) permanecer para o ano que vem, não há dúvida” que haverá impacto, concluiu. (Da Agência Reuters)
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