Consolidar o amendoim paulista como líder nacional na exportação. Essa é uma das metas da Câmara Setorial do Amendoim, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, que é considerada uma das mais atuantes no âmbito de fortalecer a cadeia produtiva.
“O nível de organização da Câmara Setorial do Amendoim é tão eficaz quanto o de uma empresa privada, com grupos de trabalho dedicados a ações específicas para o setor. Essas iniciativas beneficiam não apenas os produtores, mas toda a cadeia produtiva,” esclarece José Carlos de Faria Junior, coordenador das Câmaras Setoriais, da SAA.
Quando foi implementada, há nove anos, os grupos de trabalho passaram a abordar questões que afetavam todo o setor, como os índices de aflatoxina, uma substância nociva, produzida por fungos, que pode contaminar alimentos e causar sérios danos à saúde.
O primeiro GT, com foco no mercado externo, conseguiu resultados significativos no âmbito das exportações, segundo Luiz Antonio Vizeu, presidente da Câmara Setorial do Amendoim. “A aflatoxina era um entrave, principalmente, para atender ao mercado da União Europeia, que a cada lote enviado notificava o governo brasileiro sobre os níveis de contaminação dos produtos recebidos”, explica Vizeu.
Depois de muitas reuniões, a CS conseguiu criar um protocolo, junto ao Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA), que prevê a autorregulação do setor com normas mais rígidas de produção, que incentivam as boas práticas desde o campo até a indústria. “Desde então, as notificações da UE caíram drasticamente. Hoje, somos o país exportador com menor número de reclamações”, revela.
Para se ter uma ideia, o nível de tolerância de aflatoxina do bloco europeu é de 4 microgramas por quilo, já a Rússia, principal comprador do grão brasileiro, aceita até 15 µg kg, mesmo valor tolerado nos Estados Unidos. “Apesar do alto custo para atender às normas da União Europeia, o valor pago pelo bloco compensa, em média, 20% mais que os demais países importadores”, explica o presidente da Câmara Setorial do Amendoim.
Outro Grupo de Trabalho da CS do Amendoim, que começou a ser organizado em 2015, é o de Sementes. Até então, não havia produção de variedades certificadas, era o agricultor quem separava os grãos para fazer replantio. Agora, 70% da produção paulista é certificada. “Os agricultores paulistas entenderam que comprar sementes certificadas garante uma safra de melhor qualidade, mais resistente e vigorosa”, ressalta. Além disso, muitas financeiras requerem certificação para liberação de crédito.
Já no final do ano passado, foi criado o Grupo de Trabalho de Marketing e Comunicação com o objetivo de melhorar a imagem da cadeia produtiva, principalmente, no mercado internacional. Vizeu explica que com o aumento das exportações, países concorrentes do Brasil passaram a divulgar comunicados com informações equivocadas sobre a qualidade do produto de origem brasileira. “O GT passou a fazer boletins informativos para divulgar as características positivas da leguminosa brasileira no mundo todo”, comenta.
O GT também é responsável pelas ações da Associação dos Produtores, Beneficiadores, Exportadores e Industrializadores de Amendoim do Brasil (ABEX-BR), que coordena atividades para difundir o consumo interno e externo do grão. Atualmente, 70% da produção é exportada, principalmente, para Rússia, Argélia e Ucrânia. Mas esse cenário pode mudar em breve, já que a China, maior importador mundial, abriu recentemente o mercado para o Brasil. “É um longo caminho, mas estamos chegando lá, conquistando a confiança dos importadores chineses com amendoim de qualidade”, revela Vizeu.
São Paulo é destaque
Por ano, a CS promove em torno de quatro reuniões com toda a cadeia produtiva, representantes da área de pesquisa da Secretaria de Agricultura, também costumam participar desses encontros. “É uma ótima oportunidade de interagir com toda a cadeia, um ponto de encontro para troca de ideias, onde aparecem demandas para o desenvolvimento de variedades de melhor qualidade”, explica Ignácio Godoy, pesquisador científico do Instituto Agronômico (IAC-Apta).
Vale destacar que as variedades desenvolvidas pelo IAC, ocupam 80% da área plantada em São Paulo, principal Estado produtor e responsável por 90% de todo o amendoim nacional. Mas o trabalho dos pesquisadores do instituto ultrapassa as fronteiras do Estado, hoje, aproximadamente 70% de tudo o que é cultivado no Brasil saíram dos laboratórios do IAC. “Com foco no mercado externo, desenvolvemos cultivares alto oleicos, que garantem uma vida de prateleira mais longa e, por isso, têm grande procura no mercado internacional”, ressalta Godoy.
Segundo o pesquisador, uma outra grande inovação, dentro do programa de melhoramento genético do IAC, é a variedade resistente a doenças folhares, o que vai reduzir o uso de fungicidas no futuro. “Estudamos por 10, 15 anos, mas acredito que em cinco anos, teremos no mercado sementes de amendoim alto oleicas, mais resistentes e com menor custo de produção.”
Crescimento da cultura
Todo esse trabalho tem resultado no crescimento expressivo da cultura, a safra 2022/23 foi 10,8% maior que o registrado no ciclo passado, com 736,3 mil toneladas, segundo levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta). A área de produção também cresceu, passou de 174,57 mil hectares para 178,20 mil hectares. As regiões paulistas com maior expressão produtiva são Tupã, Marília e Jaboticabal. O cenário internacional também se mantém em alta e cresce em média 9% ao ano. “Batemos recorde de exportação todos os anos e o potencial de crescimento é muito grande”, avalia Vizeu.
Para o Secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Antônio Junqueira, esses números refletem a importância da pesquisa e do campo, fruto de uma parceria sólida entre o setor público e privado. “Comandar 90% da produção nacional de amendoim é um marco significativo, destacando o potencial imenso do setor. Nossa aspiração é expandir nossa presença internacional e continuar a crescer,” enfatiza Junqueira. (Da Amendoim)
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