Os alertas do Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) formulados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram uma queda expressiva do desmatamento do Cerrado em todo o Matopiba: de 3.476 km² entre maio e agosto de 2018 para 1.452 km² entre maio e agosto deste ano.
As informações estão em ampla reportagem divulgada pelo O Globo na manhã desta quarta-feira, dia 11, intitulada “Desmatamento cai no Cerrado, mas áreas devastadas e sem uso se expandem” e assinada pelo jornalista Vinicius Sassine. “Um fenômeno, no entanto, vem chamando a atenção de pesquisadores que acompanham os mapas de satélite das áreas de fronteira agrícola: a derrubada da vegetação para não colocar absolutamente nada no lugar”, destaca O Globo.
Conforme o jornal, o fato ocorre “principalmente na região chamada Matopiba , uma área de Cerrado mais preservada no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e que vem se transformando em uma nova fronteira agrícola para a expansão do cultivo de soja”.
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O veículo de comunicação informa que a prática de desmatar "para nada" foi detectada por uma pesquisa em curso no Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
“O Lapig é responsável por fazer o trabalho de validação dos dados de desmatamento do Cerrado produzidos pelo. Hoje, 11 de setembro, é o Dia Nacional do Cerrado. Ao contrário da Amazônia, cujos alertas de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) mostram que a devastação quase dobrou no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, o Cerrado vem passando por um processo de redução dos desmatamentos”, diz o jornal.
AMAZÔNIA E CERRADO
Na Amazônia, conforme o Deter, foram desmatados 6.404,4 km² entre janeiro e agosto deste ano, ante 3.336,7 km² no mesmo período do ano passado, um aumento de 91,9%.
No Cerrado, a destruição somou 3.931 km² até agosto deste ano, enquanto no mesmo período no ano passado foram 4.391 km² — uma diminuição de 10,4%.
O FENÔMENO
Muitas das áreas abertas permanecem sem qualquer uso. É o que ocorreu em Sebastião Leal (PI), conforme constataram os pesquisadores do Lapig. Na região, eles acompanharam uma área desmatada de 127 km².
Imagens de satélite de 2015, 2016 e 2018 mostram que a área permaneceu sem uso consolidado durante todos esses anos.
Um drone sobrevoou a área e fez a mesma constatação, inclusive com regeneração de parte da da vegetação.
O fenômeno é comum no Piauí e é replicado em outros lugares de Matopiba.
Uma área de 13 km² em Loreto (MA) foi desmatada e queimada, mas para nada.
Em Dianópolis (TO), um sobrevoo em março deste ano constatou a mesma realidade.
Os pesquisadores também encontraram pequenos desmatamentos em Senador Alexandre Costa (MA) e São João do Soter (MA) sem finalidade alguma.
Pesquisador no Lapig e responsável pelo estudo, objeto de um doutorado em Ciências Ambientais em curso, Sérgio Nogueira aponta a especulação fundiária como uma hipótese para os desmatamentos que são substituídos pelo nada.
Especular em cima de uma área aberta explicaria os altos custos para se desmatar e abandonar em sequência grandes territórios.
“Outra hipótese é o alto risco climático da região, bem suscetível a quebras de safras. Além disso, há muitas áreas de pastagem com boa aptidão para a agricultura, e há uma discussão sobre como aumentar a produtividade dessas áreas, seja para a agricultura ou a pecuária”, diz Nogueira.
AGRONEGÓCIO CONTRA O DESMATE
Nogueira aponta que o agronegócio já foi considerado um dos principais responsáveis pelo desmatamento, mas que a pressão de grandes empresas, que buscam diferentes certificações ambientais para seus produtos, levou a uma mudança de postura.
“A ideia de que o desmatamento não é vantajoso ao setor agropecuário já começa a se consolidar nas discussões que envolvem ONGs, produtores, traders, governo e varejistas”, afirma o pesquisador no Lapig da UFG. —Discute-se muito como fazer a agricultura avançar sobre áreas de pastagem, por exemplo.
Os dados consolidados do Prodes, que traz o desmatamento oficial em um ano, apontam uma estabilização da devastação do Cerrado nos últimos três anos e uma redução expressiva a partir de 2006.
Uma outra explicação para essa redução é o já elevadíssimo índice de perda de cobertura vegetal do Cerrado. Mais da metade do bioma já foi devastada, o que diminui, por razões lógicas, a quantidade de áreas com possibilidade de serem desmatadas.
Na Amazônia, a perda é de 15%, levando-se conta a vegetação derrubada em nove países sul-americanos.
“No Cerrado, os acessos são mais fáceis e as estações de chuva, mais amenas. Os desmates são bem mais pulverizados do que na Amazônia. Mas, mesmo com estoques menores de vegetação, a velocidade de perda no Cerrado é similar à da Amazônia”, afirma Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas do Inpe.
Apesar da queda do desmatamento em todo o Matopiba, os alertas do Deter mostram aumentos expressivos da devastação neste ano em Formosa do Rio Preto (BA) e Luís Eduardo Magalhães (BA), cidades que se constituem como os principais polos da fronteira agrícola em curso.
Entre maio e agosto deste ano, os alertas mostram um desmate de 100 km² em Formosa do Rio Preto, quase o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.
Em Luís Eduardo Magalhães, foram 31,9 km², quase o triplo do que ocorreu nos mesmos meses de 2018. (Com informações de O Globo)
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