Criada em 09/06/2021 às 07h17 | Agronegócio

Crise hídrica no Brasil afeta o agro, com impactos na logística e no setor de energia, aponta Sociedade Nacional de Agricultura

Um relatório informou que os prejuízos causado pela crise já vêm sendo registrados há meses, desde o atraso no desenvolvimento das culturas perenes até os impactos disseminados no milho safrinha nos estados.

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“Os efeitos da crise hídrica são claros e poderão aumentar nos próximos dias”, segundo o vice-presidente da SNA, Hélio Sirimarco. (Foto: Divulgação)


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O problema da falta de chuvas entre os meses de fevereiro a maio, com volumes muito abaixo da média histórica, acabaram por impactar o desenvolvimento de diversas culturas na agropecuária brasileira.

Um relatório divulgado recentemente pelo Itaú BBA informou que os prejuízos causado pela crise já vêm sendo registrados há meses, desde o atraso no desenvolvimento das culturas perenes até os impactos disseminados no milho safrinha nos estados.

Para o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Hélio Sirimarco, “os efeitos da crise hídrica são claros e poderão aumentar nos próximos dias”. Além dos impactos nas lavouras, “há também efeitos negativos no setor de logística, como nas hidrovias”, destacou Sirimarco.

A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) informou esta semana que a crise hídrica que afeta as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste pode comprometer a Tietê-Paraná, uma das principais vias fluviais de transporte de cargas, mas não irá ameaçar o escoamento da produção de soja. Segundo a associação, os modais rodoviário e ferroviário podem suprir o volume atualmente transportado pela hidrovia.

Custo de energia

“A questão ganha contornos piores pelo fato de que, na maior parte da Bacia do Paraná, as chuvas nos próximos três meses, que já são escassas normalmente, deverão seguir este padrão, o que agravará a condição dos reservatórios, representando riscos para o abastecimento de energia e também no agronegócio, que é uma ‘indústria a céu aberto'”, destacou o Itaú BBA.

A preocupação com o custo da energia para os produtores foi mencionada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). “O avanço da crise hídrica e as incertezas com o aumento na conta de energia acenderam novo alerta para os agropecuaristas paulistas”, indicou Fábio de Salles Meirelles, presidente da Federação, em nota.

Segundo o dirigente, “os reajustes batem na cadeia produtiva e se estendem ao consumidor, que é quem compra carne no açougue e o arroz e feijão no mercado e fica com a conta final”.

Para Meirelles, a crise hídrica “deve ser observada com atenção pelas autoridades e medidas deverão ser tomadas, como a revisão das taxas de energia, por exemplo, para não haver aumento de preços dos alimentos”.

Nesse contexto, a Faesp recomenda que os produtores adotem sistemas de energia solar fotovoltaica e irrigação “inteligente” nas fazendas, com tubulações subterrâneas para gerar o gotejamento localizado.

Previsão de chuvas

Por outro lado, o vice-presidente da SNA, Hélio Sirimarco, chamou a atenção para as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que anuncia chuvas expressivas no Sul do Brasil.  “A passagem de uma frente fria nesta semana favorece áreas de instabilidade nos três estados, com indicação de acumulados expressivos e risco de chuva forte e volumosa entre Santa Catarina e Paraná, inclusive nas capitais”.

Ainda segundo o Inmet, a tendência é que esse sistema avance e as áreas de instabilidade se formem também no sul do Mato Grosso do Sul e de São Paulo. Até a próxima semana, as chuvas devem ganhar força no Mato Grosso do Sul e avançar mais ao norte de São Paulo, aumentando as áreas de instabilidade também no sul de Minas Gerais, porém, com volumes baixos.

A seguir, um painel elaborado pelo Itaú BBA com as principais culturas afetadas pela recente crise hídrica.

Culturas perenes e pecuária

Café

A safra 2021/22, sendo colhida neste momento, foi bastante prejudicada pela seca desde o início do ciclo, com as floradas no último trimestre de 2020 seguidas de seca e altas temperaturas, o que levará a uma redução da produção de arábica de mais de 30% frente ao ano anterior.

Já a safra 2022/23, em tese de bienalidade alta, já tem algum grau de comprometimento, pois o insuficiente desenvolvimento vegetativo durante o primeiro semestre deste ano, se reflete em um menor número de internódios, e isso significará menor espaço para a formação dos botões florais e, consequentemente, menor formação dos grãos.

Laranja

No Estado de São Paulo, o mais importante para a produção citrícola, e onde a seca vem se mostrando bastante intensa, a perspectiva é de uma recuperação pequena da produção neste ano, da ordem de 9,50% segundo a primeira estimativa da Fundecitrus, isso após ter caído 30% no ano anterior.

As áreas irrigadas de café e laranja também carregam preocupação para os próximos meses em função da já baixa disponibilidade de água nos reservatórios.

Cana-de-açúcar

A cultura já apresentava atraso de desenvolvimento causado pelo período seco de 2020 e aguardava as chuvas de verão de 2021 para sua recuperação. O baixo volume das precipitações de fevereiro a abril, porém, além de causar atraso na colheita também provocou impacto na produtividade, reduzindo a expectativa de produção.

A estimativa de redução de moagem aliada à grande parte do açúcar já comprometido para exportação tem resultado na priorização da produção de adoçante.

Esse cenário contribui para uma baixa oferta de etanol e nos faz projetar um balanço de oferta e demanda do biocombustível para a safra 2021/22 mais apertado, o que deve fazer com que os preços de hidratado na bomba sigam a paridade próxima dos 70% da gasolina C durante toda a safra, e até superior em determinados momentos, por exemplo na entressafra.

Pecuária de corte e de leite

Com as pastagens já bastante deterioradas em muitas regiões importantes de produção pecuária (leite e carne), casos de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, por exemplo, o viés é de baixa da produção, com o complicador do elevado custo da alimentação concentrada.

No caso dos confinamentos, parte dos animais que poderia entrar na engorda intensiva, caso as margens projetadas para o segundo semestre não estivessem tão apertadas, pode ser mantida no pasto, alongando a chegada ao ponto de abate.

Culturas anuais

Milho safrinha

Embora a condição em Mato Grosso, principal estado produtor, não tenha sido tão ruim quanto em outros estados, também são esperadas reduções no potencial produtivo. Já as lavouras do Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas, Goiás e São Paulo foram bastante afetadas, com estimativas da safra total circulando no mercado de até 60 milhões de toneladas, frente a um potencial próximo de 90 milhões de toneladas.

Além de 35% da área da cultura no País ter sido instalada fora da janela ideal, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), prejudicada pelo atraso no ciclo da soja, a falta de chuvas atingiu em cheio a cultura já na fase vegetativa.

Além dos confinamentos de bovinos e na pecuária leiteira, a quebra do milho safrinha tem impacto direto nos setores de aves, suínos e ovos, que são intensivos em ração e já vêm pressionados pelos altos custos. Com isso, um possível alívio do preço do cereal para os elos demandantes ficará mais difícil, o que em última instância aumenta a necessidade de repasse dos preços das proteínas animais para os consumidores finais.

Trigo

Embora as preocupações com as condições climáticas ainda pairem sobre o produtor, o clima mais seco e as chuvas espaçadas ajudaram no momento de plantio do trigo nas últimas semanas. O ritmo de plantio, no entanto, segue abaixo do verificado no ano passado e, até o final de maio, a área plantada do cereal no Brasil chegou a 32,40% contra 37,40% na safra anterior, segundo a Conab.

No Paraná, principal estado produtor, até o último dia de maio a área plantada correspondia a 71%, enquanto a média dos últimos cinco anos no período foi de 67%. A condição da lavoura, que está entre a fase de germinação e desenvolvimento, correspondeu a 91% em condições excelentes.

O trigo é cultura rústica em relação à necessidade de chuvas. Contudo, caso haja falta de umidade em momentos críticos do ciclo, como floração e enchimento de grãos, perdas significativas poderão ocorrer. Para as lavouras irrigadas no Centro-Oeste e em SP, a atenção se volta aos níveis dos reservatórios locais, pois a baixa capacidade poderá comprometer o potencial de irrigação.

Arroz

A preocupação ainda é pequena para a cultura visto que a colheita da safra 2020/21 encerrou há algumas semanas e apresentou bons índices de produtividade. Olhando para a próxima safra, cujo plantio inicia-se a partir de setembro, com o arroz sendo uma cultura em que 70% da produção ocorre em áreas alagadas no Rio Grande do Sul, a atenção se volta aos níveis dos reservatórios de água no estado.

Feijão segunda safra

A falta de chuvas também tem afetado a produção de feijão segunda safra. No Paraná, maior estado produtor, dos 40% de área plantada que ainda precisa ser colhida, 45% se encontra classificada como “ruim”, influenciada por uma parcela relevante de áreas em frutificação, estágio fenológico muito sensível à redução de precipitações.

Em Mato Grosso, segundo maior produtor, a produtividade também foi prejudicada. Contudo, o aumento de 10% da área deve sustentar um aumento de produção frente ao ano passado.

Feijão terceira safra

Para a terceira safra, cujo plantio ocorre entre e abril e julho e é majoritariamente é irrigada, o risco também está nos baixos níveis dos reservatórios de tal sorte que poderá comprometer substancialmente a produtividade. A produção total do feijão terceira safra na temporada passada representou 27% da oferta nacional do produto. (Da SNA)

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