Os investidores estão com mais apetite neste ano por operações de fusão e aquisição de empresas no agronegócio diante de mais uma safra recorde e da perspectiva de recomposição de margens, depois dos efeitos negativos da guerra da Ucrânia no setor. Somente entre janeiro e abril, já houve 17 transações no agronegócio envolvendo R$ 1 bilhão, enquanto em todo o ano de 2021 e o todo o ano de 2022 as negociações ficaram em 25 e 29, respectivamente, segundo levantamento da consultoria Kroll.
As aquisições de empresas do agronegócio ainda são minoritárias em operações de fusão e aquisição, mas a participação já está um pouco maior neste ano, pois as transações de forma geral começaram mais fracas neste ano no país. Até abril, as transações do setor representaram 3,8% das negociações totais, enquanto em 2021 representaram 1,5% e em 2022, 1,9%, conforme o levantamento.
O valor das negociações deste ano já superou R$ 1 bilhão, enquanto em 2022 as aquisições com valores divulgados não ultrapassaram R$ 800 milhões. Em 2021, as transações mapeadas superaram R$ 5 bilhões, impulsionadas por algumas operações com tíquete elevado, como a compra do total das ações da Radar, de terras agrícolas, pela Cosan por quase R$ 1,5 bilhão, e a compra da companhia agrícola Insolo, que atua no Matopiba, pela Terrus, do empresário Ricardo Faria, por R$ 1,8 bilhão.
Neste ano, a transação mais relevante até o momento foi a compra de 12,4 mil hectares de terra em São Desidério, na Bahia, pela SLC Agrícola por R$ 470 milhões. A empresa vem mantendo margens próximas de 40% e, como outros empreendimentos agrícolas, tem perspectivas positivas pela frente com os preços favoráveis nesta safra 2022/23.
Mas não são apenas as transações “dentro da porteira” que aguçam o apetite dos investidores. Uma das transações registradas neste ano foi a compra da Referência Agroinsumos, de distribuição de insumos no Rio Grande do Sul, pela Lavoro, do Pátria Investimentos, por valor não divulgado.
Alexandre Pierantoni, head de corporate finance da Kroll, lembra que esse é um segmento que vem mantendo o ritmo de consolidação, mas ressalta que o aumento das aquisições no agronegócio vem ocorrendo em diversos segmentos dentro e fora da porteira. “Estamos vendo operações em proteína animal, em distribuição, em químicos, e também não só na produção, mas em como se comunicar com o cliente final”, afirma.
Há interesse em consolidar setores e na diversificação” — Alexandre Pierantoni
Do lado dos compradores, a predominância é de investidores estratégicos, tanto com capital nacional como internacional. Segundo Pierantoni, há um interesse dos investidores estratégicos tanto em se consolidar em seus setores de atuação como na diversificação de atuação regional e de portfólio. “Existem muitas transações para entrar numa nova região ou levar uma empresa forte para outro patamar, ou ainda para complementação de produto”, afirma.
Uma das empresas que vêm se destacando na estratégia de crescimento para complementação de portfólio é a Camil. No ano passado, a companhia pagou R$ 152,8 milhões pela fabricante de biscoitos Mabel, após avançar nos segmentos de café e massas. A tendência, segundo Pierantoni, é que as aquisições mirem agregação de valor aos produtos.
Outra linha de negócios que vem aparecendo mais é a compra de agtechs. Só neste ano, o empresário Leonardo Maggi comprou a FieldPro, de previsão do tempo, e a “venture building” WBGI, já investiu em quatro agtechs. As startups vêm ganhando espaço com o desenvolvimento de ecossistemas voltados ao agro e à ampliação da conectividade no campo.
No caso dos investidores estrangeiros, Pierantoni identifica um maior interesse por empresas brasileiras por causa do “novo posicionamento” do Brasil no cenário externo e, no caso do agronegócio à resiliência do setor. Segundo ele, “o investidor internacional precisa alocar recurso, e o Brasil é uma opção boa por causa do potencial de crescimento, e o agronegócio enfrenta uma resistência menor por causa da relevância no PIB”.
Já os investidores financeiros estão minguando de forma geral em operações de aquisição em diversos setores, pois os juros elevados não favorecem o apetite pelo risco, avalia o especialista. Isso não significa que estejam ausentes. Em fevereiro, a Trígono Capital elevou sua participação na Kepler Weber para 20%, em meio a receios de déficit de armazenagem no país.
Alguns segmentos, porém, ainda encontram resistência devido a gargalos conjunturais, como o de máquinas e equipamentos. As taxas de juros mais elevadas e a escassez de crédito reduzem sua atratividade. Mas há indícios de recuperação, como o resultado das negociações da última Agrishow, que cresceu 9,5% e alcançou R$ 13 bilhões em negócios fechados.
Para Pierantoni, as operações de fusão e aquisições de forma geral no país devem ficar estáveis em relação a 2022, mas as do agronegócio devem seguir representado de 3% a 4% do total até o fim do ano. (Do Valor Econômico)
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