Criada em 22/02/2022 às 07h47 | Negócios

Pelo segundo ano consecutivo, Brasil importa quase US$ 300 milhões em energia elétrica no mês de janeiro

O valor praticamente repete os US$ 297,69 milhões do primeiro mês de 2021. No entanto, importações devem ser reduzidas em 2022, apontam o governo e companhias do setor; há possibilidade de redução na conta de energia do consumidor.

Imagem
Essa tendência de redução no uso das termelétricas e também da importação de energia foi informada ao Norte Agropecuário pelo presidente diretor-presidente da ABCE, Alexei Vivan, e pelo MME. (Foto: Divulgação)

Daniel Machado
De Brasília (DF)

Mesmo com as fortes chuvas de dezembro passado e também no início deste ano, a importação de energia elétrica no mês de janeiro de 2022 por parte do Brasil ficou em US$ 298,17 milhões (R$ 1,53 bilhão). O valor praticamente repete os US$ 297,69 milhões do primeiro mês de 2021, ano de recorde absoluto na importação de energia com quase US$ 3 bilhões.

No entanto, 2022 deve ser bem diferente, com o Brasil reduzindo muito a necessidade de comprar energia elétrica de fora do país. Com os reservatórios das hidrelétricas cheios, também há uma tendência de diminuição bem acentuada do uso de termelétricas para geração de energia, o que abre a possibilidade até de redução da tarifa para os consumidores finais.

Essa tendência de redução no uso das termelétricas e também da importação de energia foi informada ao Norte Agropecuário pelo diretor-presidente da ABCE (Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica), Alexei Vivan, e pelo MME (Ministério de Minas e Energia).

Vivan disse que houve uma melhoria nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas brasileiras e, com isso, o governo terá condições de reduzir o uso das termelétricas e da importação – duas medidas que encarecem diretamente as contas de energia.

Ele fez a ressalva que uma parte da importação se dá por ser mais barato e mais fácil às vezes comprar energia de países vizinhos em estado de fronteiras do que acionar a distribuição nacional para fazer o abastecimento a partir de um estado muito distante.

“Mas isso não é o principal motivo da importação elevada de energia que ocorreu no ano passado. Isso ocorreu por falta de geração de energia no Brasil. Tivemos um momento muito crítico no ano passado, o mais crítico dos últimos 90 anos, por pouco não tivemos racionamento em 2021”, pontuou Vivan.

O diretor-presidente da ABCE ainda elogiou a medida do governo de deixar ativo os contratos com as termelétricas mesmo no início do período chuvoso. “Isso melhorou o nível dos reservatórios, porque as térmicas seguiram funcionando para que os reservatórios pudessem encher. Fizemos isso para que possamos estar abastecidos para o período com menos chuvas que começa a partir de março e abril. Tivemos chuvas além do previsto agora, mas não podemos deixar de destacar a medida correta de deixar funcionar as térmicas”, ressaltou, ao dizer que a iniciativa, apesar de impopular, encerra qualquer risco de racionamento de energia em 2022.

Por conta dessas chuvas, inclusive, o governo federal já começou a reduzir drasticamente a contratação de energia térmica, ao mesmo tempo no qual aponta com a diminuição da importação. Em nota enviada ao Norte Agropecuário, o MME informa que o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) mudou a regra vigente até o início de fevereiro e estabelece limite para o que a contratação termelétricas não ultrapasse 10.000 MWmédios, com unidade com CVU (Custo Variável Unitário) de até R$ 600/MWh. Antes, o valor permitido era superior a R$ 2 mil/MWh.

“O ministro Bento Albuquerque destacou a relevância da redução do custo de operação do sistema em contexto de melhoria das condições hidroenergéticas, lembrando que durante o período seco do ano passado chegou-se a utilizar recursos com CVU superior a R$ 2.000/MWh para enfrentar a excepcionalidade hidrológica. Essa mudança na política operativa deverá se traduzir na redução dos custos percebidos pelos consumidores de energia elétrica”, destaca a nota do MME, ao sinalizar uma melhora para o consumidor.

Vivan também compartilha desse otimismo do governo federal. “A continuar assim, a tendência é que venham a ser desligadas as térmicas barateando a conta para o consumidor”, salientou.

Leia a extensa nota do governo federal ao Norte Agropecuário abaixo:

Prezado Daniel,

Com relação aos seus questionamentos, informamos o seguinte:

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) reuniu-se nesta quarta-feira (02/02), em caráter ordinário, e avaliou, dentre outros assuntos, as condições de suprimento eletroenergético ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Conforme informado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em janeiro de 2022, foi observada melhora nas afluências, principalmente, nas regiões Sudeste, Nordeste e Norte do país. A carga do SIN apresentou uma variação positiva de 2,1%, em relação ao mês anterior, e uma queda de 0,7% quando comparada a janeiro de 2021. Nesse contexto e com o plano de recuperação dos reservatórios das usinas hidrelétricas, o volume do reservatório equivalente do SIN atingiu 49,4% ao final do mês de janeiro, 5,1 p.p. acima do previsto na reunião do CMSE de janeiro. Além disso, nesse mês, a Usina Hidrelétrica (UHE) Furnas atingiu a cota de 762,0 m, permitindo pleno uso múltiplo das águas e o desenvolvimento do turismo na região.

Além disso, houve melhora da perspectiva de Energia Natural Afluente (ENA) do estudo prospectivo. No cenário menos conservador do estudo, o acréscimo de energia associado à melhoria do cenário hidrológico foi de cerca de 10 GWmed para o período de fevereiro a julho, em relação ao cenário apresentado na reunião do CMSE de janeiro. Para fevereiro de 2022, há a expectativa de um acréscimo de 4,5% na carga de energia elétrica em relação a janeiro de 2022. Já o armazenamento do SIN ao final de fevereiro deve se situar entre de 55,2% e 60,6%, acima dos 38,3% verificados ao final de fevereiro de 2021.

Em apoio à tomada de decisão, os estudos prospectivos foram também avaliados tendo por base a referência de aversão a risco aprovada pelo CMSE, que está representada através da Curva Referencial de Armazenamento (CREF) 2022. Diante dos resultados apresentados, considerando a continuidade da recuperação dos armazenamentos de relevantes reservatórios de usinas hidrelétricas, o atendimento aos usos múltiplos da água e as incertezas intrínsecas associadas à evolução da estação chuvosa em 2022, o CMSE manifestou-se pela redução da intensidade das medidas excepcionais para o atendimento à carga e a garantia do atendimento em 2022, cuja aplicação continuará a ser reavaliada periodicamente, em reuniões técnicas.

Diferentemente da deliberação então vigente, o colegiado estabeleceu limite para o despacho adicional de recursos para atendimento ao SIN, de forma que a geração termelétrica total das usinas despachadas pelo ONS, já acrescidos dos montantes porventura importados, não ultrapasse 10.000 MWmédios, limitados a termelétricas que possuírem Custo Variável Unitário (CVU) de até R$ 600/MWh.

O Ministro Bento Albuquerque destacou a relevância da redução do custo de operação do sistema em contexto de melhoria das condições hidroenergéticas, lembrando que durante o período seco do ano passado chegou-se a utilizar recursos com CVU superior a R$ 2.000/MWh para enfrentar a excepcionalidade hidrológica. Essa mudança na política operativa deverá se traduzir em redução dos custos percebidos pelos consumidores de energia elétrica.

Adicionalmente, Bento Albuquerque ressaltou os montantes de recursos de transmissão e geração que vem sendo agregados aos Sistema Elétrico Brasileiro. Na transmissão, em 2021 foram acrescidos mais de 7.800 km de linhas de transmissão, bem como mais de 18.000 MVA de capacidade de transformação, sendo 19% e 27% acima da média dos últimos cinco anos, respectivamente. O ano 2021 se encerrou com uma expansão de 7.562 MW na capacidade de geração de energia centralizada – o maior valor observado nos últimos cinco anos.

O CMSE reafirmou seu compromisso com a garantia da segurança e da confiabilidade no fornecimento de energia elétrica no País no cenário atual e futuro, por meio da continuidade do monitoramento permanente realizado, respaldado pelos estudos elaborados sob as diversas óticas do setor elétrico brasileiro, e com a ação sinérgica e robusta das instituições que compõem o Comitê.

Informações técnicas

Condições Hidrometeorológicas: Em janeiro, a precipitação no Brasil apresentou dois padrões distintos. Na primeira quinzena, permaneceu a condição de precipitação nas bacias da região Norte e no São Francisco, enquanto na quinzena seguinte foi mais favorável para as bacias localizadas na região Sudeste. Em relação à Energia Natural Afluente (ENA) foram verificados valores abaixo da média histórica para o mês de janeiro para o subsistema Sul. Já as regiões Sudeste, Norte e Nordeste apresentaram resultados de afluências mais favoráveis. Em janeiro, considerando a ENA agregada do Sistema Interligado Nacional (SIN), foi verificado valor próximo de 125% da Média de Longo Termo (MLT).

Energia Armazenada: Ao final de janeiro, foram verificados armazenamentos equivalentes de 41,7%, 35,4%, 73,3% e 89,1% nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte, respectivamente. Considerando os cenários prospectivos avaliados pelo CMSE, a previsão é que o armazenamento ao final de fevereiro deva se situar entre 46,6% e 51,9% no Sudeste/Centro-Oeste, entre 29,6% e 52,6% no Sul, entre 86,1% e 87,0% no Nordeste e entre 98,2% e 98,8% no Norte. Para o SIN, considerando a mesma referência de data, a indicação é de armazenamento entre 55,2% e 60,6% da EARmáx.

Expansão da Geração e Transmissão: em 2021, a expansão atingiu 7.822 km de linhas de transmissão, por meio de 95 linhas de transmissão em 18 estados da federação, e 18.065 MVA de capacidade de transformação, em 38 subestações em 16 estados da federação, contribuindo para ampliação dos limites de intercâmbio entre as regiões e aumentando a segurança do fornecimento de energia elétrico. Ademais, destaca-se que mais de 80% das instalações entraram em operação antes dos compromissos contratuais, evidenciando a dinâmica do segmento de transmissão de energia.

Em janeiro de 2022, a expansão verificada foi de 482 MW de capacidade instalada de geração de energia elétrica e de 687 km de linhas de transmissão. Para 2022, a previsão é de expansão de 7.766 MW de capacidade instalada de geração de energia elétrica, 8.987 km de linhas de transmissão e 31.154 MVA de capacidade de transformação.

O CMSE, na sua competência legal, continuará monitorando, de forma permanente, as condições de abastecimento e o atendimento ao mercado de energia elétrica do País, adotando as medidas para a garantia do suprimento de energia elétrica. As definições finais sobre a reunião do CMSE de hoje, bem como as demais deliberações do Colegiado, serão consolidadas em ata devidamente aprovada por todos os participantes do colegiado e divulgada conforme o regimento.

Clique aqui e ouça a reportagem completa

Comentários


Deixe um comentário

Redes Sociais
2024 Norte Agropecuário