Como o Portal SNA acompanhou ao longo do ano, a presidência temporária do Brasil no G20 é de sumo interesse para o setor agropecuário nacional, uma vez que durante o período, o país anfitrião pôde dialogar mais estreitamente com representantes das outras nações que formam o bloco. Através do grupo de trabalho da agricultura, que teve encontros presenciais e remotos nos últimos meses, temas de relevância foram abordados, tais como sustentabilidade, insegurança alimentar e combate ao protecionismo.
Na prática, entretanto, as barreiras comerciais ainda representam um desafio, pois os próprios membros do G20, que respondem por 85% (segundo dados da Organização Mundial do Comércio) da produção global de gêneros alimentícios, impõem restrições comerciais unilaterais, inclusive entre si próprios. Mesmo com a adoção de medidas que tentam aperfeiçoar o comércio internacional, a tendência de ressalvas e a volatilidade do mercado sempre lançam dúvidas sobre os acordos que podem ser fechados.
Ainda segundo a OMC, para 2024, o valor de comércio coberto por restrições no G20 atingiu US$ 829 bilhões comparado a US$ 246 bilhões em 2023. O total de restrições em vigor cobre US$ 2,3 trilhões, ou 12,7% das importações do G20 e 9,4% das importações globais. As medidas de facilitação de comércio aumentaram para US$ 1 trilhão comparado a US$ 318,8 bilhões no ano passado. A entidade também aponta que os países tendem a fazer negócios, cada vez mais, com nações que comunguem das mesmas ideologias e inclinações políticas.
Entre os dias 18 e 19 de novembro, a reunião de cúpula entre os chefes de governo e de estado marcou o encerramento da presidência brasileira no grupo, que passou a função à África do Sul. O encontro ocorreu no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, que foi especialmente reformado para a ocasião. Milhares de jornalistas se credenciados cobriram o evento.
O lançamento de uma aliança global contra a fome e a pobreza marcou o consenso entre os líderes, num momento em que fatos novos testaram a desenvoltura da diplomacia brasileira. Um deles foi a eleição de Donald Trump, que voltará à Casa Branca em janeiro de 2025. Como este portal já abordou, há receios de que a guerra tarifária com a China volte, assim como os impulsos protecionistas em geral que marcaram o primeiro mandato do republicano.
Por outro lado, parte das discussões da COP 29 de Baku, que acontece no Azerbaijão, acabaram migrando para a cúpula do G20, em parte porque o Brasil sediará a COP 30 em 2025, e também porque a sustentabilidade e a transição energética foram temas escolhidos pelo país em sua presidência temporária. Por fim, mas não menos importante, o documento divulgado pelas delegações, espécie de resumo das tratativas e do que ficou decidido, fez menção sutil às guerras no Oriente Médio e na Ucrânia. Isso decorreu de pressão dos países que compõem o G7 e o G20, simultaneamente.
Balanço positivo no contexto geral
A presidência do Brasil no G20 foi considerada um êxito não só da diplomacia nacional, mas também dos esforços de autoridades e setores do agronegócio, que tiveram atuação decisiva nas discussões e acordos. Algumas das novas parcerias ainda passarão por revisões, mas o consenso na declaração final foi um ponto alto, visto que não aconteceu nas duas últimas cúpulas de líderes. O grupo de trabalho agrícola, em paralelo, também publicou uma síntese escrita após seu último encontro. A declaração ministerial, produzida após cinco anos de hiato nas cúpulas anteriores, elenca como principais pontos dos compromissos dos países-membros com a sustentabilidade da agricultura e com sistemas de produção “resilientes e inclusivos”, especialmente de pequenos produtores, para enfrentar as mudanças climáticas. O texto também faz referências diretas a medidas que precisam ser adotadas para reduzir a fome no planeta.
O Brasil aproveitou bem a oportunidade de provar sua liderança em segurança alimentar, dada a pujança de sua produção, que pode até aumentar, sem prejuízo da adoção em larga escala de práticas sustentáveis e abertura de novos mercados. Essas parcerias comerciais também servem para fomentar a inovação da tecnologia no campo, com intercâmbio de conhecimento científico e acadêmico, no qual o país já é um expoente. Com efeito, a tendência é que recursos possam ser cada vez mais reutilizados na agricultura, minimizando o impacto ambiental e fortalecendo o que se convencionou chamar de economia circular no agronegócio.
As atenções agora se voltam para mudanças políticas importantes que sempre afetam o competitivo mundo do agro, além da já mencionada posse de Donald Trump. O Congresso renovará suas lideranças em fevereiro, com eleição de novas mesas diretoras na Câmara e Senado, onde as bancadas atuam de forma aguerrida para garantir os interesses do setor e frear eventuais retrocessos. Pautas importantes, como a regulamentação da reforma tributária, aguardam deliberação.
Daqui a um ano, a COP 30, que acontecerá em Belém do Pará, testará a resiliência e habilidade do agronegócio, como este Portal já antecipou, uma vez que o evento pode servir de palco para militantes mais radicais. Assim como no G20, o país precisa exercer seu protagonismo de forma consciente e pragmática, protegendo aqueles que produzem e garantem não somente o alimento na mesa de brasileiros, mas milhões de pessoas mundo afora, além da força econômica que gera riqueza, empregos e prosperidade. (Da SNA)
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