Um dos motores da economia nacional, o agronegócio vem alcançado ótimos resultados ao longo dos anos e, apenas em 2020, avançou importantes 24,3%, de acordo com levantamento realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), respondendo por pouco mais de 26% do PIB brasileiro.
O bom desempenho do segmento está relacionado a dois fatores em conjunto, registrados nos últimos dois anos: os recordes de produção e o crescimento exponencial das exportações. No entanto, os resultados de 2021 ficaram um pouco abaixo das expectativas, principalmente por questões relacionadas ao clima, que ainda devem influenciar o setor ao longo deste ano.
Com o objetivo de trazer um panorama sobre as perspectivas do mercado agro em 2022, realizamos um Workshop virtual, com transmissão ao vivo pelo nosso canal do YouTube, que contou com a participação das consultorias Cogo Inteligência em Agronegócio e Climatempo.
Os especialistas apresentaram um cenário geral sobre a previsão de chuvas no período de desenvolvimento das lavouras de verão, o efeito do La Niña na safra brasileira, e outras informações relevantes.
Continue a leitura para ficar por dentro das perspectivas para o agro neste ano, e comece a fazer projeções e desenhar estratégias de negócios mais acertadas considerando toda a cadeia, da produção à comercialização.
Panorama climático e os efeitos da La Niña
O fator clima exerce grande influência na produção agrícola, pois o excesso ou a falta de chuvas nas regiões produtoras atuam tanto no desenvolvimento da lavoura quanto na colheita.
Fenômeno de escala global caracterizado pelo resfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, o La Niña está, atualmente, regulando o clima em todo o Brasil e também na América Latina, principalmente no que se refere à distribuição de chuvas, e deve seguir assim até o outono de 2022, segundo o agrometeorologista João Castro, do Climatempo.
E, de acordo com os dados levantados pelo profissional, todo o período de produção da safra verão estará sob esta condição.
O especialista explica que os principais efeitos do La Niña são causar irregularidade de precipitação no Centro-Sul, ao mesmo tempo em que, aumentar significativamente o volume de chuvas no Centro-Norte.
Considerando essa informação, é importante que todos os atores da cadeia produtiva do agronegócio estejam atentos à condição climática dos próximos meses em suas regiões, pois, segundo Castro, ela responde por 50% a 70% da variabilidade de produção de uma determinada safra.
Previsão de volume de chuvas nas regiões produtoras
Para o mês de janeiro, é esperada uma irregularidade entre 50 a 100 mm abaixo da média no volume de chuva na região Centro-Sul, principalmente no Mato Grosso do Sul, oeste do Paraná, Santa Catarina e noroeste do Rio Grande do Sul.
No interior de São Paulo, Minas Gerais e Goiás a expectativa é de algo próximo a 150 mm, o que não é ruim, mas está abaixo da média. Diferente do que é previsto para o Mato Grosso, Pará e toda a região norte do país, com maior precipitação.
Em fevereiro, os estados do Centro-Norte devem receber um volume muito acima da média, superando 250 mm, o que favorece principalmente os produtores do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Também espera-se que a chuva nas regiões mais ao sul aconteça de forma irregular, com exceção da região sul do Rio Grande do Sul, que deve registrar de um mês bem chuvoso, com volume entre 100 e 150 mm.
No mês de março, acende-se o alerta de pouca precipitação em toda a região Centro-Sul, abaixo de 100 mm, principalmente Mato Grosso do Sul, noroeste do Paraná e sul do Rio Grande do Sul, com cenário de estiagem, segundo aponta o agrometeorologista.
Por fim, em abril teremos a retomada das chuvas, com destaque para os estados de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, acima de 100 mm, ajudando a recuperar as áreas de safrinha. Já a faixa norte do país registrará uma diminuição dos volumes de chuva.
Perspectivas gerais de mercado
O Brasil já é o maior exportador líquido global de produtos agropecuários e, apesar das chuvas abaixo do esperado em 2021, deve atingir a marca de US$ 122 milhões em exportação, batendo um novo recorde, segundo Carlos Cogo - especialista da Cogo Inteligência em Agronegócio e associado Sicredi.
Em valores de exportação, o primeiro lugar como exportador global ainda fica com os Estados Unidos, com quase US$ 150 milhões.
Ainda considerando dados de 2021, a soja é o principal produto exportado pelo Brasil, deixando as carnes em segundo lugar. Na sequência temos celulose, açúcar, café, algodão e milho. Entre os principais importadores de produtos nacionais estão a China (36%), os países da União Europeia (15%) e os Estados Unidos (7%).
Soja e outros grãos
Para 2022, a expectativa é de que o cultivo de grãos alcance 72,3 milhões de hectares de área plantada, contanto que nenhuma adversidade climática interfira de forma muito agressiva no plantio da segunda safra.
Contudo, o cenário se mostra muito positivo, pois muitos estados já concluíram a semeadura da soja e devem finalizar a de milho até o final de fevereiro e início de março.
É importante dizer que a produtividade média de grãos do Brasil cresceu 3,3% ao ano entre 1990 e 2021, com um avanço anual de 5,4%; o que pode levar o país a um novo recorde produtivo com 300 milhões de toneladas em 2022, caso não haja quebra de safra.
Ainda não se podem excluir problemas relacionados à primeira safra de milho, com perdas já registradas em algumas regiões do Rio Grande do Sul e Paraná, mas, segundo Cogo, o resultado da segunda safra tem um peso maior.
Outros grãos, como trigo (+4,7%) e algodão (+13%) mantêm a estabilidade na evolução e projeções de área de plantio para este ano, enquanto arroz (-0,3%) e feijão (-0,5%) apresentam leve retração.
O mercado de café
Para o mercado de café, as geadas que ocorreram entre junho e julho do ano passado prejudicaram uma parte da safra 21/22 colhida. O mesmo problema deve ocorrer na próxima safra 22/23, gerando perdas de 8 a 10 milhões de sacas.
O resultado disso são os contratos futuros do café para este ano com preços na faixa de 240 e 250 centavos/libra-peso, o que favorece a negociação do produtor, que pode vender a saca por cerca de R$ 1.500,00, maior valor desde 1998, conforme ressalta o especialista. Em resumo, isso significa que a temporada 2022/2023 será muito favorável para os produtores de café.
Projeções do mercado de carnes
Já no segmento de proteína animal, as primeiras projeções indicam alta de 19% no consumo global de frango e redução no consumo de carnes bovina (-4%) e suína (-5%).
A China, a maior produtora mundial de carne de porco, continua enfrentando problemas com a peste suína africana, que vem afetando seus rebanhos e gerando perdas na produção desde 2018.
O problema também afeta países como Vietnã, Tailândia e Alemanha, outros grandes exportadores mundiais.
Falando sobre importação, a gigante asiática também figura como a maior importadora de proteína animal. Para este ano, os chineses devem importar do Brasil 3,3 milhões de toneladas de carne bovina.
Olhando para o mercado interno, o consumo de proteína animal mudou drasticamente. A carne de frango agora é a preferida do brasileiro. O movimento, que foi intensificado durante a pandemia, deve permanecer em 2022.
Estima-se que o consumo per capita de frango no Brasil será de 51,8 kg/ano, enquanto o da carne bovina ficará na casa de 25,8 kg/ano e a suína 15,3 kg/ano.
Já no cenário de exportação de carne de boi, continuamos firmes na posição de líder mundial, e devendo alcançar a faixa de 2,6 milhões de toneladas exportadas em 2022, o que representa 33% de toda a produção nacional.
No mercado de carne de frango, o Brasil também é líder de exportação, com a expectativa de 4 milhões de toneladas exportadas (29% da produção total), com os Estados Unidos como principal concorrente, com 3,5 milhões.
A carne suína brasileira também terá um cenário favorável este ano, com perspectiva de exportação de 1,3 milhões de toneladas, ou seja, 1/3 de toda a produção nacional. (Da Assessoria)
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