Ao falar para uma plateia formada por técnicos, profissionais liberais e empreendedores do campo, o engenheiro agrônomo Francisco Graziano Neto abordou a necessidade de os produtores rurais brasileiros assumirem a agenda da sustentabilidade. “O produtor rural deve dominar e não temer a agenda da sustentabilidade. É um caminho sem volta, como foi, há 20 anos, a tal globalização, ou seja, todos foram inseridos querendo ou não”, afirmou, Xico Graziano, como é mais conhecido, durante a palestra “Brasil, potência agroambiental” proferida na noite dessa quinta-feira, dia 8, na sede da IB Consulting, em Palmas, conveniada da FGV no Tocantins. A palestra foi restrita a um número de 50 pessoas ligadas a áreas do agronegócio. Portal de notícias com divulgação voltada ao Matopiba, o Norte Agropecuário foi convidado pela organização para participar do evento.
Ex-presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), ex-secretário de Estado do Meio Ambiente e de Agricultura de São Paulo, além de chefe de gabinete do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, Graziano apresentou números que atestam a força do agronegócio brasileiro como, por exemplo, o saldo positivo das exportações e de empregos gerados no campo e o recente desempenho do setor que garantiu resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil.
Entre os números apresentados, Graziano elencou que o agronegócio representa 44% do saldo da balança comercial brasileira, ou seja, US$ 81,86 bilhões. E mais: A agropecuária foi o setor com melhor desempenho na economia em 2017, se destacando com alta de 13%. A indústria e o setor de serviços, por exemplo, ficaram estagnados (0,3%). O agro contribuiu decisivamente para o resultado do PIB do ano, no valor de R$ 6,56 trilhões, uma alta de 1% em relação a 2016.
POTÊNCIA MUNDIAL NO CAMPO
Outro dado importante apresentado por Graziano foi um comparativo da taxa de crescimento de produtividade do Brasil. Segundo suas pesquisas, em média, o Brasil cresce 3,98%, enquanto os Estados Unidos, uma potência mundial, registra 1,87%. “O Brasil será potência mundial no campo.”
Para Graziano, com a evolução no campo, o agricultor e a agricultora ganharam novos papeis. “Antes, o agronegócio era tradicionalmente responsável pela produção de matéria-prima e alimentos. O que já é realidade e não tendência aponta que, além disso, cabe ao agro a geração de energia e, com a agricultura de baixo carbono, “contribuir com a a fotossíntese””, declarou, exemplificando ações ambientais benéficas ao ambiente praticadas pelos produtores.
Para ele, a agricultura de baixo carbono é o “novo grande negócio no campo”. E este “grande negócio” está inserido numa agenda que prevê, por exemplo, o manejo sustentável, pagamento por serviços ambientais, manejo hídrico, bem-estar dos animais, boas práticas agrícolas e responsabilidade como licenciamento ambiental e certificação da produção.
Nesse aspecto, Graziano apresentou tendências do agronegócio, como a eficiência energética, zerar utilização de nitrogenados sintéticos e de agrotóxico, utilização de safras contínuas e integradas, adoção de sistemas agroflorestais, a robotização no campo, precisão, agricultura urbana e as “smart farms” (fazendas pequenas) – Graziano citou exemplos de utilização de áreas no deserto para produção agrícola.
Outro ponto relevante discutido por Grazino foi a chamada “logística reserva”, que compreende o “vai e volta” da política nacional de resíduos sólidos, ou seja, o reaproveitamento do lixo, como consta na Lei 12.305/2010 que não foi implementada, na prática, no país. “O produtor já faz essa logística reversa, por exemplo, com os agrotóxicos. O Brasil é referência nesse aspecto.”
Na palestra, Graziano foi questionado sobre as formas de os produtores serem compensados financeiramente por serviços ambientais. Ele ouviu dos profissionais e estudantes que assistiram a palestra exemplos principalmente de empresas multinacionais que desenvolvem projetos voltados a comunidades e oferecem vantagens financeiras.
“Muitos países pagam por serviços ambientais, em geral ligados à proteção da biodiversidade e recursos hídricos. No Brasil, isso é desempenhado pela iniciativa privada. Já o poder público oferece compensações em créditos, por exemplo”, disse Graziano.
Na sua visão, o acompanhamento do avanço tecnológico é primordial para o produtor se inserir nessa “onda no campo”. “Mas, só a tecnologia não resolve. É necessária cooperação, as chamadas redes de tecnologia. E isso é um dilema. Há um individualismo na cabeça do produtor.”
RETIRAR AS TRAVAS
Outro questionamento se referiu a presença do poder público na vida do produtor. Perguntado se o poder público mais atrapalha ou contribui com o agronegócio, a resposta de Graziano foi sucinta: “Na maioria das vezes atrapalha!”. Ele criticou a falta de projetos de desenvolvimentos e que é preciso ter marcos regulatórios. “O governo tem é que tirar as travas do agronegócio”, disse, citando, por exemplo, algumas burocracias ligadas principalmente a aspectos ambientais.
Ele comentou ainda que, apesar de o poder público não dar sua parcela de contribuição ao agronegócio, o setor funciona por si só. “Os números estão aí. Apesar de toda essa falta de políticas públicas e falta de marcos regulatórios, os resultados são positivos. É incrível isso”, comentou. Uma das justificativas, na sua avaliação, é a adoção de tecnologia e abundância de recursos naturais no país.
Ao finalizar a avaliação do aspecto político do agronegócio, Graziano afirmou que os investimentos em infraestrutura, que deveriam ser papel do poder público, cada vez mais estão sendo assumido pela iniciativa privada. “O dinheiro público no Brasil acabou. O Brasil não tem capacidade de investimento. Diante disso, a solução é a iniciativa privada”, comentou.
Questionado, Xico Graziano afirmou que o poder público, em linhas gerais, mais atrapalha do que contribui para o fortalecimento do agronegócio: “O governo tem é que tirar as travas do agronegócio”
Deixe um comentário