Criada em 22/03/2017 às 02h26 | Mercado

Crônica: “Os dois lados da moeda”, por Rafael Mazão

A controvérsia da operação pode ser nomeada de CARNE FORTE, MÍDIA PODRE!!!!, destaca zootecnista Rafael Mazão, de Uberaba (MG).

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Rafael Mazão: "Manchetes de jornais que coíbem nossos importadores e potenciais novos mercados e ainda desvalorizam o produto interno em plena “febre!!!" (foto: Arquivo pessoal)

Vivemos um momento de dificuldade na pecuária? Pessimistas sempre enxergam a crise, já os visionários têm percepção de que situações críticas podem ser de bons negócios. Vamos fazer uma rápida analogia..... É sabido que a arroba caiu, mas só pela situação econômica do país? De 2000 a 2010 foram criadas inúmeras novas plantas frigoríficas, mas tinha-se pouca oferta de animais. Essas plantas tinham capacidade de abate aproximada de 60 mil bovinos e só era ofertado 40 mil cabeças diariamente.

Sendo assim o preço da arroba foi subindo, a velha lei da oferta e procura. A partir de 2012 as plantas começam a diminuir, a chamada globalização atinge o mercado frigorífico, “os grandes começam a engolir os pequenos”, várias plantas não suportam as condições do mercado e necessidade em evolução tecnológica e fecham as portas. Assim os abates chegam ao equilíbrio com a oferta diária de animais.

Nos anos de 2013, 2014 e 2015, um mercado firme da arroba do boi, reposição valorizada, consumo interno de carne em ascendência e exportações atingindo novas fronteiras e mercados promissores. Mas aparece uma nova febre na pecuária, talvez até pior que a aftosa, a “febre sócio-econômica”, que afeta o mercado de forma geral já em 2015, refletindo 2016 e 2017.

A queda por dois anos seguidos no Produto Interno Bruto (PIB) trouxe consequências graves ao consumo de carne bovina no país. Estimativas apontam que em 2016 o consumo per capita foi na casa de 27 quilos, enquanto 2015 fechou em 39,4 kg per capta, dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OECD.

Ideal certamente seria que com a queda que tivemos da arroba, a carne chegasse ao consumidor com preço reduzido proporcionalmente, assim estimulando o consumo, mas ainda não foi possível devido interferências da rede varejista juntamente com a indústria.

E chegamos a 2017, junto à febre, aparece uma grande dor de cabeça, uma operação da PF junto a imprensa apresenta ao mundo a “carne fraca”, pois a moda é achar pêlo em gema de ovo para se promover e aparecer nos telejornais, “deu-se nomes aos bois errados” e assustou o mercado externo e interno. Mas então como poderia ser “carne fraca”?

O maior produtor de proteína animal do mundo, o maior exportador de carne bovina, o maior potencial pecuário produtivo do planeta, com indústria em plena expansão tecnológica, enfim, manchetes de jornais que coíbem nossos importadores e potenciais novos mercados e ainda desvalorizam o produto interno em plena “febre”!!!!

A controvérsia da operação pode ser nomeada de CARNE FORTE, MÍDIA PODRE!!!!

Em 10 anos, o rebanho bovino brasileiro cresceu 1,9% e a produção de carne aumentou 18,2%. O consumo total de carne bovina no Brasil cresceu 18%, representando um crescimento no consumo per capita de 7,3%, dados da ABIEC.

O pecuarista cada vez mais investindo em genética, nutrição e tecnologia, prova disso foi o acréscimo de +15kg no peso médio de abate dos animais em 2016 em relação aos de 2015. E ainda, se compararmos a idade média de abate, em 2007 os machos abatidos acima de 36 meses representavam 70% do montante, já em 2016 os machos de 24 a 36 meses representaram 86% da categoria na indústria, prova que os investimentos realizados pelos pecuaristas surtiram efeito nessa última década, dados do Frigorífico Minerva. Para produzir e atender toda a demanda por proteína vermelha, é inquestionável que os sistemas de produção de cria, recria e engorda necessitam ter ciclos mais curtos e serem mais eficientes, com menor custo de produção, assim tornando mais sustentável a atividade do pecuarista.

Nossos grandes concorrentes na produção e exportação de carne, Estados Unidos e Austrália possuem alto custo de produção e muita dificuldade competitiva (instabilidade climática e produtividade de insumos) para atingir com nosso potencial os grandes importadores: China, Rússia, Coréia, Chile, Egito e Japão.

A carne bovina, um dos alimentos de origem animal mais rico, será um dos pilares da dieta da população que tem projeção de atingir 3 bilhões de pessoas até o ano de 2050, segundo a Organização das Nações Unidas – ONU em 2016.

Mas como falei no início da “prosa”, é tempo de oportunidade! A reposição não estava tão atrativa, vimos relação de troca boi gordo x bezerro nos últimos anos comumente de 1 x 2, agora temos 1 x 2,4 em média.

Vislumbrando que a “febre” logo-logo passa, 2017 pode ser um ano atípico para fazer reposição com boa relação de troca para o invernista, onde este produto será abatido em 2019 com cenário social mais favorável ao consumo interno de carne, moeda mais forte e arroba mais valorizada, aumentando a margem de lucro do produto final de quem apostou que crise atinge mais quem não planeja e “fica esperando a vaca ir para o brejo”!!!!

Rafael Mazão é zootecnista, especialista em julgamento das raças zebuínas, em melhoramento genético. É diretor técnico da Dstak Assessoria Pecuária Consultor e técnico do Departamento Corte da Alta Genetics Uberaba (MG)

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