Maurício Buffon: “Se o Estado não tivesse a agricultura já com essas propriedades em larga escala, nós viveríamos numa situação muito pior, sua população viveria muito pior” (foto: Ademir dos Anjos/Arquivo/Divulgação)
VÂNIA MACHADO E CRISTIANO MACHADO
DE PALMAS (TO)
Ao avaliar a pedido do Norte Agropecuário a iniciativa da multinacional Cargill de investir US$ 30 milhões para evitar o desflorestamento do Matopiba, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Tocantins (Aprosoja-TO), Maurício Buffon, fez uma contundente defesa dos produtores rurais classificando-os como membros de uma das principais categorias que atuam na preservação ambiental no país. “O produtor é penalizado em cima de uma falsa moral que não leva ganho ambiental para ninguém. Temos que ter consciência que o produtor tem que ter 35% da sua propriedade com reserva, se ele não tem na propriedade, tem que comprar fora e tem que manter. Isso ninguém faz só o produtor rural. Nós precisamos entender esses dados e enxergar com olhos de realidade”, disse, em entrevista ao Norte Agropecuário. “Quem preserva hoje é produtor rural, nós temos certeza disso e os dados confirmam isso. Eu queria deixar a pergunta no ar: Quem preserva 35% do seu capital, deixa lá em preservação e não pode fazer uso comercial? Ninguém faz isso, mas o produtor faz. Então é uma falsa moral onde só beneficia os países concorrentes do Brasil na produção agrícola”, complementou, em entrevista especial ao Norte Agropecuário.
Na entrevista, Buffon rebateu as críticas, falou do potencial de desenvolvimento agrícola da região e do cumprimento à legislação ambiental. Sem citar nominalmente a Cargill, por exemplo, Buffon fez duras críticas empresas que, segundo ele, financiam organizações não-governamentais para causar turbulências para o agronegócio brasileiro.
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Leia a entrevista na íntegra:
Norte Agropecuário: Por que a Aprosoja Brasil considera negativo o desflorestamento do Matopiba?
Maurício Buffon: Realmente é uma questão de lógica. O Brasil ainda tem muita área a ser explorada, então não precisa ser desmatado. O Tocantins tem 20% em pecuária que pode ser transformada em agricultura; a pecuária está se adaptando para uma pecuária mais produtiva com menos áreas e agricultura vai ocupando essas áreas.
Norte Agropecuário: Há muitas críticas sobre a produção agrícola e o agronegócio é tratado até com discriminação... Na nota da Aprosoja, os impactos positivos da produção são citados. Quais são esses impactos?
Maurício Buffon: Eu me reservo a responder sobre nossa região do Tocantins. Há um grande ganho para a população tanto do campo quanto da cidade. Citando como exemplos polos como Porto Nacional, Paraíso, Araguaína, que quando chega a agricultura o comércio fica diferente. A farmácia, a borracharia, o posto de combustível, restaurantes, hotéis, isso tudo vem a se desenvolver, isso dá um novo fôlego no comércio da região. A agricultura tem esse diferencial que ocupa o solo, mas traz desenvolvimento e traz também esse ganho tanto na área ambiental quanto na área econômica que movimenta os locais em que ela está se desenvolvendo.
Norte Agropecuário: Por que essas críticas?
Maurício Buffon: Hoje o mundo vive uma grande crítica ambiental sobre o Brasil, os países desenvolvidos da Europa e os EUA que já estão com todas suas áreas consolidadas para agricultura e já exploraram muito mais que o Brasil. Os próprios órgãos daqueles países estão financiando organizações não- governamentais para vir aqui no Brasil falar que aqui não pode ser feito agricultura. Essa distorção de valores que as ONGs colocam dentro do cenário agrícola brasileiro a gente não pode aceitar. As críticas vêm de empresas que já exploram o agronegócio como um todo, exploram através de financiamento de ONGs para fazer campanha e aproveitando essa exploração deles, vão lá fora, principalmente na Europa, e vendem seus produtos mais caro para o consumidor europeu. Só esqueceram o que eles já fizeram, desmataram e estão usando o solo deles muito mais que o Brasil. Então isso nós não admitimos, que empresas venham aqui colocar regras no negócio onde estamos totalmente dentro da legalidade. Isso não pode acontecer. Essas empresas têm que vir aqui e respeitar o Código Florestal brasileiro, têm que pegar o dinheiro que estão usando para financiar ONGs e aplicar no local certo que é na produção sustentável e isso eles não fazem.
Norte Agropecuário: Na sua opinião, sem a produção em alta escala no Matopiba, como imaginaria que estariam hoje os Estados que formam esta fronteira agrícola?
Maurício Buffon: Nós não temos dúvidas de que se no Estado não tivesse entrado a agricultura já com essas propriedades em larga escala, nós viveríamos numa situação muito pior, sua população viveria muito pior. Hoje a agricultura traz recursos para dentro do Estado, a maior parte dos seus produtos é exportada, isso traz dinheiro para dentro do Tocantins principalmente. A industrialização é outro assunto que a gente tem que abordar, pois agrega valores. Mas sem dúvida, se não existir a primeira engrenagem rodando para poder fazer com que entre esse capital externo no comércio, as cidades do Estado viveriam numa pobreza muito maior que hoje vivem. Se nós pegarmos o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de onde tem agricultura e onde não tem, se fizermos essa rápida pesquisa, a gente vai ver a agricultura traz muitos ganhos para o Estado, então é isso que a gente precisa ter em mente.
Norte Agropecuário: A Aprosoja Brasil, em nota, informa que “o bioma cerrado do Matopiba não está ameaçado”. Quais os dados que comprovam esta afirmação?
Maurício Buffon: Os dados saem de um trabalho sério feito pela Embrapa, onde traz números impressionantes sobre a agricultura e onde ela tem seus grandes ganhos. O Tocantins usa 3% das suas áreas agricultáveis, nós temos ainda 20% do Estado de pecuária, a maior parte degrada, onde a gente pode recuperar esse solo tanto no uso da agropecuária quanto no uso da agricultura. A agricultura faz isso com mais excelência, o agricultor tem mais técnica, mais maquinário, busca mais informações e a maioria dos agricultores faz investimento adequado para explorar o solo com racionalidade. Então nós podemos crescer mais 3% e iríamos para dois milhões de hectares, lembrando esses dados são da Embrapa chancelados pela Nasa, esses dados são muito sérios e são muito confiáveis. O Estado ainda tem um potencial muito grande para crescer em cima de áreas degradas e lógico tem algumas aberturas de áreas, mas nós vamos chegar a 6%, abaixo ainda da média nacional que hoje é 9%. Em lugar nenhum do Brasil tem esses números que nós temos aqui no Matopiba. A Bahia tem hoje 1,5 milhão de hectares de agricultura e é maior que o Tocantins, então deve ter menos de 3% de área de agricultura extensiva de soja. É isso que temos que ter consciência, que sim o Estado tem que preservar tem que respeitar as leis ambientais, o produtor tem certeza que isso precisa ser respeitado, ele respeita a água, respeita córregos, toda essa legislação. O Brasil hoje tem um Código Florestal mais severo, e ainda assim, as ONGs e as empresas não querem respeitar. Eles precisam vir aqui para dentro, sentar com os produtores e ver que se nós pegarmos a média entre todos os estados nós vamos ter a base de 2% do seu território com soja, isso é muito menor que as cidades que fazem muito mais poluição, que poluem muito mais que o campo. O Matopiba inteiro não tem 2% de área produzida, e tem 3% de cidades. Então quem polui? Quem está fazendo algo errado? Os esgotos a céu aberto? O produtor é penalizado em cima de uma falsa moral que não leva ganho ambiental para ninguém. Temos que ter consciência que o produtor tem que ter 35% da sua propriedade com reserva, se ele não tem na propriedade, tem que comprar fora e tem que manter. Isso ninguém faz só o produtor rural. Nós precisamos entender esses dados e enxergar com olhos de realidade, quem preserva hoje é produtor rural, nós temos certeza disso e os dados confirmam isso. Eu queria deixar a pergunta no ar: Quem preserva 35% do seu capital, deixa lá em preservação e não pode fazer uso comercial? Ninguém faz isso, mas o produtor faz. Então é uma falsa moral onde só beneficia os países concorrentes do Brasil na produção agrícola.
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