Criada em 23/04/2024 às 08h58 | Pesquisa

Pesquisa desenvolve mesa flutuante de baixo custo para cultivo de ostra nativa

A Mesa Móvel Flutuante Realocável para o Cultivo de Ostras (Mesa Ostranne) é um equipamento simples, de baixo custo e pode ser construído pelo próprio produtor. Destina-se à criação da Crassostrea gasar, principal espécie de ostra nativa cultivada no Nordeste do Brasil.

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Pesquisa desenvolve mesa flutuante de baixo custo para cultivo de ostra nativa. (Foto: Jefferson Legat)

Pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) desenvolveram uma nova mesa flutuante para criação da Crassostrea gasar, a principal espécie de ostra nativa cultivada no Nordeste do Brasil. A Mesa Móvel Flutuante Realocável para o Cultivo de Ostras (Mesa Ostranne) é um equipamento simples e de baixo custo (veja quadro) e pode ser construído pelo próprio produtor. Permite o acesso às ostras independentemente da amplitude da maré, reduzindo a carga de trabalho. Possibilita, ainda, o deslocamento da estrutura de cultivo e da criação inteira para a margem e locais alternativos de manejo, a fim de proteger os moluscos de problemas que comprometem a produção, a exemplo da alta salinidade, fortes correntes, contato prolongado com o ar quente e outras intempéries.

A malacocultura – cultivo de moluscos – vem crescendo em águas quentes das Regiões Nordeste e Norte do País, mas ainda enfrenta desafios para se firmar de forma competitiva. Estudos conduzidos em locais de cultivo apontam que ostras cultivadas em mesas flutuantes apresentam maiores taxas de crescimento e sobrevivência, independentemente da necessidade de realocação, quando comparadas a indivíduos criados em estruturas tradicionais fixas. A nova mesa confirma essa tendência. No parque aquícola norte de Sergipe, um dos locais onde foi validada, 91% dos moluscos cultivados alcançaram tamanho mínimo comercial. Apenas 14% dos criados em mesas fixas tiveram o mesmo desempenho. 

A tecnologia resulta do projeto Bases tecnológicas para a produção sustentável de ostras nativas no Norte e Nordeste do Brasil (Ostranne), liderado pela pesquisadora da Embrapa Angela Legat. Ela cita dois fatores que explicam as maiores taxas de crescimento e sobrevivência de ostras cultivadas em estruturas flutuantes. “O primeiro é a proteção dos animais contra as altas temperaturas enquanto se encontram submersos. A exposição ao ar em altas temperaturas prejudica estruturas internas das ostras, afetando o crescimento e a sobrevivência. O segundo é a permanência constante das ostras na camada entre 20 cm e 30 cm de profundidade, independentemente da amplitude da maré. Essa camada superficial da água favorece a alimentação das ostras, uma vez que concentra a maior quantidade de microalgas”.

O pesquisador da Embrapa Jefferson Legat, que coordenou o desenvolvimento da tecnologia, ressalta que os resultados obtidos corroboram estudos anteriores realizados pela Empresa em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tais estudos comprovaram que ostras de um mesmo lote, cultivadas em áreas tropicais, apresentaram melhor desempenho zootécnico quando cultivadas com maior tempo de submersão e menor tempo de exposição ao ar e ao sol.

Jefferson Legat ressalta que o cultivo de moluscos bivalves, a exemplo das ostras, é considerado a forma mais ambientalmente correta e sustentável para a produção de proteína animal. “Esse molusco se alimenta de microalga, o que já elimina os custos e impactos do plantio de algo que vai ser transformado em ração e reduz a pegada ambiental da indústria de processamento e transporte de rações, além de evitar resíduos no ambiente de cultivo.” Moluscos bivalves são aqueles que possuem o corpo formado por uma concha de duas partes, chamadas de valvas.

Cenários

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicados em 2022 e reproduzidos na publicação técnica de autoria dos pesquisadores da Embrapa, os moluscos ocuparam a segunda posição na produção mundial de animais aquáticos cultivados em 2020, representando 20% da aquicultura e 53% da maricultura.

No Brasil, a malacocultura teve início na década de 1970, mas ainda apresenta características artesanais, mesmo com os seus avanços nas últimas décadas e com a existência de empreendimentos em quase todos os estados costeiros. Exceção a esse cenário é Santa Catarina, que concentra cerca de 97% da produção nacional de moluscos cultivados, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também de 2022.

Angela legat aponta que o desenvolvimento da malacocultura catarinense está associado ao maior nível de organização da cadeia produtiva, à maior concentração de profissionais e instituições de pesquisa e ao maior investimento na estruturação de instituições públicas e privadas do estado. “Além disso, desde a década de 1990, Santa Catarina investe em pesquisas para desenvolver técnicas e tecnologias, adequando os sistemas de produção de moluscos às condições locais.”

Sistemas convencionais

Ainda de acordo com a publicação técnica, muitos estados brasileiros continuam adotando práticas implementadas na década de 1970 e desenvolvidas para países de clima temperado, com pouca ou nenhuma adaptação às condições ambientais e climáticas das áreas de cultivo situadas em águas costeiras tropicais.

A maioria dos sistemas convencionais adotados no Norte e Nordeste Brasil - cultivo de fundo confinado; sistema fixo suspenso próximo ao fundo do tipo mesa ou rack; e o sistema fixo suspenso próximo ao fundo do tipo varal - não permite a realocação das estruturas e a possibilidade de flutuação conforme o nível da água. Isso obriga o criador a ajustar sua rotina de trabalho aos horários das marés e a ficar exposto ao sol durante o manejo.

Outra desvantagem é que, sem flutuação, alguns desses sistemas acabam alojando as ostras cultivadas, dependendo do nível da maré em cada horário, em diferentes patamares da lâmina d’água, ou mesmo fora dela. Esses patamares nem sempre são ideais no que se refere às condições ambientais para o melhor desenvolvimento dos animais, como temperatura, salinidade e concentração de alimento. (Da Embrapa)

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