Criada em 13/05/2020 às 20h43 | Pecuária

Ducha veterinária mostrou-se uma tecnologia viável e eficiente no controle do carrapato-do-boi, afirma médico e pesquisador

No artigo “Estratégia de controle do carrapato-do-boi em bovinos de corte no cerrado”, pesquisador da Embrapa Renato Andreotti afirma que iniciativa pode ser indicada como estratégia de melhor custo-benefício.

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Ducha veterinária é eficiente para o tratamento de bovinos com carrapaticida por meio de pulverização (Foto: arquivo Embrapa)

Estratégia de controle do carrapato-do-boi em bovinos de corte no cerrado

Por Renato Andreotti*
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A América do Sul nasceu economicamente bebendo mate, elemento básico da alimentação dos guaranis, e continuou produzindo alimentos com a introdução de bovinos pelos jesuítas no século XIV, nas regiões de Vacarias no Sul, em estâncias com densidade média de 1 animal/4 hectares.

A bovinocultura se espalhou pelo país nos séculos seguintes e, atualmente, o rebanho bovino brasileiro alcança mais de 200 milhões de cabeças ocupando posição de destaque no mundo, com produção que chega a 9 milhões de toneladas de carne bovina. Parte deste crescimento (32%) deu-se nos cerrados, com o aumento do rebanho de corte chegando a 47 milhões de cabeças, com destaque na intensificação da produção.

Com o avanço da pecuária e a demanda por maior produtividade em uma mesma área de produção, surgiu a necessidade de incorporar novas tecnologias ao sistema produtivo. Avançamos na formação de pastagens com incremento nutricional; na reprodução, proporcionando melhor desfrute do rebanho e incremento genético com raças mais produtivas e seus cruzamentos, ao lado de melhor controle sanitário. Essas práticas viabilizaram a região dos cerrados como um grande celeiro na produção de bovinos no país.
O cruzamento de raças traz como consequência desvantagens com relação à maior susceptibilidade dos animais a ectoparasitas, principalmente ao carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus), que atualmente representa um dos grandes entraves na produção de bovinos mais produtivos.

O Centro-Oeste brasileiro, com condições climáticas favoráveis à manutenção das populações do carrapato-do-boi nas pastagens ao longo do ano, proporciona altas infestações nos bovinos, em especial nos animais de raças taurinas e seus cruzamentos.
O carrapato-do-boi começa a causar prejuízos com a perda de apetite, bicheiras, perda de peso e consequente produção de carne e leite, levando à redução no desfrute do rebanho e podendo levar à morte de animais pela transmissão da tristeza parasitária bovina (TPB).

Animais cruzados, com sensibilidade maior ao carrapato do que o Nelore, aumentam o risco de contrair a TPB na ordem de 4 a 9 vezes mais, elevando o risco de perda de animais.

Considerado um dos maiores entraves na pecuária bovina mundial, causando prejuízos relacionados à produção com estimativa de perdas em torno de 3,24 bilhões de dólares anualmente, somente no Brasil, o carrapato do boi é alvo de pesquisas e práticas visando seu controle na Embrapa Gado de Corte.

Várias são as estratégias de controle deste ectoparasito, que ainda é predominantemente realizado com acaricidas, com o uso de diversos produtos comerciais disponíveis no mercado brasileiro em distintas formas de aplicação, prática que acarreta o surgimento de populações de carrapatos resistentes a essas bases químicas no país reduzindo o sucesso do tratamento no país.

A predileção da utilização de acaricidas com aplicação dorsal (pour-on) na maioria dos sistemas de produção de gado de corte ocorre pela facilidade de aplicação sobre os animais tendo uma boa interação com outras práticas de manejo. Apesar dessa facilidade de aplicação, trabalhos desenvolvidos na Embrapa Gado de Corte mostraram que o seu uso com a mesma base química, quando comparado com a pulverização, mostra perda de eficácia de 41,4%, comprometendo os resultados do seu uso no controle estratégico do carrapato.

O controle estratégico é fundamental para a otimização do controle da população dos carrapatos, porque controla as larvas no ambiente, que representam 95% dos carrapatos no sistema de produção, com eficácia, rentabilidade e redução do impacto ambiental.

No entanto, o uso de pulverização em escala para sistema de produção de gado de corte nos cerrados necessita do uso da câmara atomizadora – que preferimos chamar de ducha veterinária - ferramenta facilitadora na aplicação de acaricidas de contato, pois apesar do maior investimento, é eficaz nos seus resultados, apresenta maior eficiência com menor tempo de aplicação e redução de perdas do produto para o ambiente durante o tratamento de animais.

Os produtos utilizados para aplicação na pulverização são a base de contato direto da molécula com o carrapato e, para isso, o produto precisa alcançar o carrapato fixado na pele dos animais para realizar o seu efeito.

Utilizamos uma ducha veterinária instalada em sistema de produção no cerrado para acompanhar os resultados e comparar com outras práticas de aplicação. Uma ducha veterinária com capacidade para calda de carrapaticida de 310 litros que permitiu tratamento de 77 animais por carga de carrapaticida. Nossos resultados mostraram que o uso no tratamento de 200 animais viabiliza o investimento realizado para a colocação da ducha na propriedade.

O tratamento utilizando a ducha veterinária apresentou redução na carga parasitária de 79,2% já no segundo dia de tratamento, chegando a 83,1% no 21º dia. Aqui, enfatizo que o ciclo parasitário do carrapato-do-boi gira em torno de 21 dias, o que propicia o seu uso no controle estratégico objetivando a descontaminação da pastagem.

Vale ressaltar que o teste in vitro de imersão de carrapatos adultos com o carrapaticida utilizado no mencionado estudo atingiu uma eficácia máxima (100%) para a calda limpa, levando uma redução da eficácia com os resultados obtidos no campo, mostrando que existe uma grande diferença do teste na bancada e a realidade no campo, devido à influência de fatores ambientais e de manejo na eficácia de controle.

Comparando com o desempenho de outros produtos carrapaticidas, encontramos, nas mesmas condições de campo, que a moxidectina injetável apresentou uma eficácia satisfatória de 82,8% apenas no 28º dia. Já dois tratamentos por via pour-on, fipronil e fluazuron, apresentaram maior percentual de redução na eficácia com valores de 32,6% e 2,8%, respectivamente no 21º dia apenas.

Analisando o período experimental de maneira total, podemos observar, na contagem de carrapatos no período, que houve uma diferença significativa entre os grupos, com melhor performance do acaricida de pulverização em relação aos outros grupos.

Esses resultados confirmam resultados anteriores obtidos pelo nosso grupo com o intuito de relatar qual a melhor estratégia de aplicação de carrapaticidas (pulverização e pour on), sendo que resultados mais satisfatórios, foram obtidos nos animais tratados com o sistema de pulverização em relação ao sistema pour on.

Aqui é necessário alertar técnicos e produtores que estes resultados expressam a necessidade do acompanhamento do percentual de eficácia dos acaricidas com relação à sua forma de aplicação, visto que os dois tratamentos com pour-on não alcançaram eficácia significativa para controle do carrapato do boi, confirmando observações anteriores.

Com relação aos custos com os tratamentos, a ducha veterinária apresentou melhores resultados, representando economia significativa. O fipronil e o fluazuron apresentaram valores economicamente mais viáveis em relação ao tratamento com a moxidectina, que apresentou um gasto cerca de 80% superior os demais tratamentos.

Em dólar, obtivemos os seguintes valores para dose dos acaricidas para: ducha veterinária 0,28; Fluazuron 0,36; Fipronil 0,37; moxidectina 1,26.

Ressalto que a instalação da ducha veterinária, para um rebanho que apresente cerca de 182 bovinos susceptíveis ao carrapato (como o rebanho da propriedade daquele estudo) e considerando o uso no controle estratégico de cinco tratamentos anuais no Brasil, a utilização da ducha veterinária em substituição aos tratamentos Pour on, acarretaria uma economia por volta de 20%, recuperando o investimento no período de um ano.

Já em comparação com a moxidectina, o retorno financeiro ocorreria no primeiro tratamento realizado em todo o rebanho. Ainda, os tratamentos Pour-on e injetável necessitam de mecanismos para obtenção de peso dos animais para dosificações corretas, o que pode onerar ainda mais o tratamento ou mesmo causar um dispêndio maior de tempo, como na utilização da fita torácica de pesagem.

A ducha veterinária não requer pesagem dos animais e apresentou melhor eficácia, com aplicação da formulação contendo Clorpirifós 30g, Cipermetrina 15g e Fenthion 15g, demonstrando melhor relação custo-benefício em relação aos demais tratamentos, principalmente para propriedades com grandes rebanhos, sendo a melhor opção para ser utilizada com eficácia de uso no controle estratégico.

No entanto, a correta manutenção da ducha e os cuidados com a reposição e recarga da calda, assim como medidas para evitar o aparecimento de resistência, são essenciais para que este método seja satisfatório a longo prazo em uma propriedade.

É importante lembrar que o ajuste da preparação e produção da calda com relação ao tamanho do rebanho, no momento da aplicação do acaricida na ducha veterinária, é essencial para utilização total do volume a ser preparado e para reduzir ao mínimo o impacto ambiental. Essas práticas exigem o trabalho de técnicos ou pessoal treinado com experiência para o sucesso nos resultados e segurança na aplicação.

O produtor que realiza um investimento em genética na criação de bovinos no Brasil Central, objetivando aumentar a sua produção de carne/ano, encontra o carrapato como um desafio e, ao não usar a tecnologia disponível de forma adequada, transforma o seu potencial genético produtivo em perdas na produção, não realizando o seu lucro esperado.
Pelos resultados obtidos nos estudos de nosso grupo, a ducha veterinária mostrou-se uma tecnologia viável e eficiente, podendo ser indicada como estratégia de melhor custo-benefício.

* Renato Andreotti é pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Médico-Veterinário, doutor em Ciências Biológicas, pós-doutorado no laboratório da ARS/USDA/EUA; professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Programa de Pós graduação em Ciências Veterinárias e do Programa de Pós-graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias na UFMS. Conhecimento e experiência: área de Bioquímica, com ênfase em Biologia Molecular, com atuação em Eco-epidemiologia, diagnóstico e controle de parasitas com importância sanitária/econômica.

 

  

 


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