Criada em 17/01/2022 às 17h43 | Pesquisa

Novo chefe-geral da Embrapa Territorial detalha planos e ações de sua gestão

"Entender onde o setor produtivo possui carências norteará nossas ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação", afirma o engenheiro agrônomo Gustavo Spadotti, que assumiu o cargo no último dia 3.

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O novo chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti. (Foto: Embrapa)

O engenheiro agrônomo Gustavo Spadotti assumiu o cargo de chefe-geral da Embrapa Territorial em 3 de janeiro, após processo de recrutamento e seleção conduzido pela diretoria da Empresa. Doutor em Agricultura, Spadotti é analista da Embrapa desde 2012, quando ingressou na unidade do Amapá. Em 2015, transferiu-se para a então Embrapa Monitoramento por Satélite (hoje, Embrapa Territorial), onde atuou em trabalhos como o Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária Brasileira e Agricultura e Preservação Ambiental: análise dos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Foi supervisor do Grupo de Gestão Territorial Estratégica da Embrapa Territorial.

Spadotti sucede Evaristo de Miranda, que comandou o centro de pesquisa por seis anos. Veja entrevista com o novo chefe-geral sobre o período de gestão que se inicia.

Qual será a marca da sua gestão?

Será, basicamente, a mudança com continuidade. Passamos por diversas transformações ao longo dos últimos seis anos. Elas marcaram não só a mudança da assinatura-síntese da Unidade, mas uma reconexão dos nossos trabalhos com os setores ligados ao agronegócio brasileiro e com a missão da criação dessa Unidade, ser um instrumento estratégico de apoio às decisões territoriais, tanto dos governos quanto do agronegócio brasileiro. Essa reconexão ainda precisa de aprimoramento. Muitas dessas engrenagens precisam ser melhor azeitadas para ganharmos cada vez mais dinamismo perante os nossos desafios internos e mantermos um papel de relevância em atendimento às demandas do agro e governamentais.

Quais serão as suas prioridades neste primeiro ano?

Consolidarei e darei maturidade aos processos implementados nos ambientes interno e externo na última gestão, ajustando-os às realidades da agropecuária brasileira, à dinâmica de um setor agropecuário cada vez mais digital e aos atuais alinhamentos e objetivos da Embrapa. Primeiro, temos que ajustar questões internas, relacionadas a processos, a pessoas, setores. Haverá também um trabalho mais focado com as entidades do agro, entidades de classe, cooperativas, associações de produtores, players que estão na linha de frente, enfrentando os principais desafios que o agro brasileiro tem em seu cotidiano. Há desafios territoriais, ligados às principais temáticas que temos trabalhado aqui na Unidade. Entender onde o setor produtivo possui carências norteará nossas ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Daqui a dois, quatro, seis anos, no final do seu mandato, você ficará satisfeito se ocorrer o quê?

São muitas as incertezas capazes de se tornarem ameaças ou oportunidades para a agropecuária brasileira no futuro: problemas zoofitossanitários, desastres naturais, pandemias e alterações na legislação etc. Já pesquisamos essas possíveis emergências e apoiarei a expansão dessas iniciativas. Se atendermos a todas as demandas que chegarem à nossa porta e mantivermos uma relação de satisfação da sociedade com os trabalhos desenvolvidos, não só pela nossa Unidade, mas pela Empresa, ficarei feliz. Temos um compromisso com a manutenção de uma relevância e de um protagonismo perante os nossos parceiros. Claro que existem outras realizações muito mais relacionadas à gestão, à infraestrutura da Embrapa Territorial, que também são complementares.

Na gestão anterior, o relacionamento da Embrapa Territorial seguiu um modelo triangular, marcado por relações com o governo, o agronegócio e a agricultura familiar. Na sua opinião, existe alguma dessas arestas em que é preciso avançar? E como fazer isso?

A gestão governamental vive sob demandas da sociedade e precisa responder a questionamentos apresentados. Então, existem demandas contínuas do Executivo, da Presidência da República e seus ministérios, e de outras escalas estaduais e municipais dentro do Executivo. Também temos ações junto ao Legislativo, mais focadas na formulação de políticas públicas, dar um alicerce científico ao desenvolvimento de questões ligadas ao agro. Eles complementam uma parte governamental, em que somos muito mais responsivos.

No vértice do agronegócio, o desafio é manter uma conexão plena com esses atores. Precisamos manter um vínculo muito forte para compreender aonde essas grandes categorias do agro estão direcionando esforços, para que nossas ações de pesquisa e transferência de tecnologia sejam focadas em atendimento de demandas que sejam reais, conectadas aos desafios que estão ocorrendo dentro do agro brasileiro.

Na pequena agricultura, somos mais propositivos, vamos até eles para ouvir demandas, para gerar novos produtos e processos para resolução das demandas desse setor. Esse é um grande desafio: como se conectar com esse pequeno produtor, que cada vez mais demanda por tecnologias na sua produção. Dentro da categoria do pequeno produtor, incluo as startups do agro - pequenas empresas que estão iniciando, e que demandam um apoio inicial para se fortalecer. Esse é um nicho interessante, e a Embrapa Territorial pode apoiar, com dados, informações, para que eles também estejam conectados com os desafios do agro, para que, assim, possam ter rentabilidade e impacto.

Você enxerga outros órgãos federais com os quais ainda não há parcerias, ou de outras esferas públicas, como a estadual e a municipal?

Trabalhar com todos os territórios é extremamente complexo. Temos 5.570 municípios brasileiros e trabalhar com todos é humanamente impossível. Conseguimos trabalhar com grandes focos, sejam eles regionais, sejam em novos territórios, como Matopiba, Sealba, mas também por biomas, que garantem trabalhar com alguns conjuntos de estados e municípios. Isso depende de uma demanda qualificada, analisada por uma equipe técnica, para que vejamos se ela se encaixa nos trabalhos desenvolvidos pela Unidade.

Nossos SITEs e também os sistemas corporativos que temos, como o Geoinfo, podem subsidiar e dar suporte, por meio de parcerias, a outros órgãos. O know-how da Embrapa e o que temos aqui em nosso centro pode ser interessante para uma geoaplicação. O mundo depende da tomada de decisão, e cada vez mais ágeis. E para serem mais ágeis, elas têm de ser espacializadas. Ninguém mais toma uma decisão sem considerar o território. Decisões não podem ser homogêneas em seus territórios; elas têm de ser direcionadas por focos específicos na resolução de problemas locais. Nisso, as geotecnologias são fundamentais para que possamos identificar esses problemas rapidamente e que as novas proposições atinjam esse público-alvo e resolvam esses problemas nos territórios. Trabalhar com sistemas de informações georreferenciadas, traz como benefício essa espacialização dos problemas, e principalmente, direcionamento do foco para resolução.

Como você avalia a carteira de projetos do centro de pesquisa? Tem algum segmento do agro ou da Ciência e Tecnologia que você deseja incluir ou dar uma atenção maior?

Eu acredito que nossas linhas de pesquisa estão focadas, fruto de um trabalho de reestruturação, visando adequação à dinâmica do setor produtivo, identificada pela Unidade e direção da Embrapa em seus documentos institucionais. Nossa carteira está muito direcionada e muito enxuta no que diz respeito aos projetos focados nos desafios territoriais da agricultura brasileira. Assim nós vamos manter nosso foco, sem pulverizar agendas e sem dispersar frentes de pesquisa. É seguir focado nos desafios da inteligência, da gestão e do monitoramento, visando soluções de problemas concretos.

Temos visto a geotecnologia ser usada cada vez mais direto no campo, pelo produtor, pelos trabalhadores no campo, nas máquinas etc. Você acha que há espaço para a Embrapa Territorial entrar no desenvolvimento desse tipo de tecnologia, para o produtor utilizar diretamente no campo?

Com certeza, cada vez mais vamos estar com aplicações diretas no campo. Por exemplo, temos um projeto de inclusão geodigital, interagindo com os jovens rurais nas decisões de gestão da propriedade por meio de smartphones e demais equipamentos de conexão. Outro caso muito relevante, que vai ganhar peso cada vez mais, é o pagamento por serviços ecossistêmicos. Por meio de bancos de dados estruturados, você pode aplicar, dentro da propriedade rural, os indicadores de sustentabilidade, mostrando onde estão os estoques de carbono, a biodiversidade faunística, como consegue promover a redução dos gases de efeito estufa dentro da sua propriedade rural. Tudo isso para a realidade local do produtor, levando em consideração seu clima, seu relevo, suas práticas, seus produtos, seus processos agropecuários e também suas áreas destinadas à preservação. Tudo isso para apoiar o pagamento por serviços ecossistêmicos daquele imóvel, daquele produtor rural, daquela cooperativa, daquela região ou seja, de um território. São produtos específicos, para demandas específicas, que podem proporcionar maior lucratividade, seja ela por melhor rentabilidade na comercialização para os mercados interno ou externo, seja por colaboração entre indústrias e propriedades rurais. (Da Embrapa)

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