Criada em 13/06/2022 às 08h27 | Negócios

Institutos de Pesquisa da APTA irão compor Centros de Ciência para o Desenvolvimento em parceria com a iniciativa privada

A Secretaria de Agricultura se destacou como o órgão com maior número de propostas aprovadas: do total de quinze, quatro são de institutos da APTA, que terão investimentos de cerca de R$ 59 milhões, entre recursos oriundos da FAPESP, órgãos públicos e iniciativa privada.

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Unidades foram contempladas em edital da Fapesp voltado à integração com setor produtivo. Ao todo, serão investidos cerca de R$ 59 milhões nos projetos. (Foto: Divulgação)

Os Institutos de Zootecnia (IZ), de Tecnologia de Alimentos (Ital), Biológico (IB) e de Pesca (IP), vinculados à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), órgão que coordena as atividades de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, foram contemplados em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP (Fapesp) para criação de Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCD). A Secretaria de Agricultura se destacou como o órgão com maior número de propostas aprovadas: do total de quinze, quatro são de institutos da APTA, que terão investimentos de cerca de R$ 59 milhões, entre recursos oriundos da FAPESP, órgãos públicos e iniciativa privada. Os projetos buscam atender ao desafio de extrair da pesquisa científica maior impacto social e econômico em benefício da sociedade.

“Os Centros de Ciência para o Desenvolvimento são uma forma inovadora de fomento à pesquisa que, desde a concepção dos projetos, leva em consideração a entrega de soluções às cadeias produtivas e à sociedade, sempre se desenvolvendo em parceria com a iniciativa privada”, afirma o coordenador da APTA, Sergio Tutui. De acordo com ele, os Institutos da Secretaria de Agricultura mostram, mais uma vez, protagonismo, ao estarem à frente de mais de um quarto das propostas aprovadas na atual chamada. “Estamos criando parcerias e desenvolvendo tecnologias que irão impactar positivamente diversos setores do agro, contribuindo para a segurança do alimento e com o desenvolvimento e a sustentabilidade do processo produtivo”, completa.

“Essa é uma iniciativa que tem por objetivo aproximar as instituições de pesquisa da cadeia produtiva, junto ao setor privado”, conta Renata Helena Branco Arnandes, diretora geral do Departamento de Gestão Estratégica da APTA (DGE). “A ideia é que os Instituto de Pesquisa de SP devem fomentar a cadeia produtiva. A pesquisa precisa chegar até o setor privado”, explica.

A gestora diz que, nessa modalidade de edital, a cada real investido pela iniciativa privada em pesquisa, a Fapesp se propõe a colocar até um real adicional. “Através desse programa, temos maior entrada de recursos e maior velocidade na pesquisa. São cinco anos de projeto em que aquele grupo de pesquisa estará focado em desenvolvimento de tecnologia - sejam produtos ou processos - para a cadeia produtiva”, detalha Renata. Ela enfatiza que as equipes são multidisciplinares e haverá um intercâmbio bastante forte com instituições de pesquisa brasileiras e internacionais. “Um aspecto bastante interessante é a existência de um Comitê Consultivo internacional, que avalia o projeto e cada atividade realizada. Para sua composição, são indicados cientistas de renome internacional, com o intuito de ajudar a construir e ajustar os trabalhos desenvolvidos”, ressalta.

Pecuária de baixo carbono

Renata, que é também pesquisadora do IZ, coordenará um dos projetos aprovados, o CCD Neutralidade Climática da Pecuária de Corte em Regiões Tropicais. O intuito é avaliar as questões relacionadas à emissão de metano decorrente da produção pecuária especificamente para as condições encontradas nas regiões tropicais. Essa necessidade nasceu, informa a pesquisadora, do fato de as equações normalmente empregadas em estudos do tipo serem baseadas em dados obtidos de regiões temperadas, não contemplando a maior parte da pecuária brasileira. “Nosso objetivo é que esse trabalho possa fornecer subsídios para a reconstrução dessas equações, adequando-as às condições da pecuária tropical”, aponta a diretora do DGE-APTA. Ela lembra que o Comitê Consultivo do projeto terá a participação de “uma sumidade” no tema, o pesquisador Frank Mitloehner, da UC Davis, nos EUA.

As pesquisas realizadas pelo Centro deverão focar em diferentes parâmetros relacionados à pecuária de baixo-carbono, acompanhando todo ciclo de vida do animal e sua relação com o ambiente. Serão abordados desde aspectos relacionados à reprodução, melhoramento genético e programação fetal, nutrição e bem-estar dos bezerros, até a elaboração de novos aditivos nutricionais e análises de sequestro e balanceamento de carbono. “Conseguimos o financiamento de mais de R$ 21 milhões para o projeto, sendo metade da Fapesp. A contrapartida da iniciativa privada ficará a cargo das empresas DSM, Silvateam, Alltech e JBS”, relata Renata.

“O CCD da Neutralidade Climática da Pecuária de Corte permitirá que o IZ, aliado a outras instituições de pesquisas brasileiras e estrangeiras e empresas privadas, desenvolva metodologias de mensurações das emissões de GEE na pecuária tropical, além de promover a inovação e difusão de novas tecnologias”, destaca o diretor geral do IZ, Enilson Ribeiro.

CCD Circula: Solução sustentável para resíduos

Coordenado pelo Ital, o CCD Soluções para os resíduos pós-consumo: Embalagens e Produtos (CCD Circula) terá o aporte de cerca de R$ 16 milhões ao longo de cinco anos, sendo metade da Fapesp e metade dos parceiros. A parceria envolve nove instituições de ensino e pesquisa, incluindo o Ital, sete empresas dos setores de alimentos, embalagem e cosméticos como cofundadoras e a própria Secretaria de Agricultura de SP, além de 15 apoiadores.

Sob a liderança da diretora geral do Instituto, Eloísa Garcia, a equipe do CCD Circula é composta por 90 pesquisadores e profissionais das áreas técnicas e administrativas do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea) do Ital, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Unesp, da USP, da Unicamp, da UFMG, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

“É uma grande conquista e uma grande responsabilidade, porque o CCD se propõe a trazer soluções para o resíduo sólido pós-consumo para o estado de São Paulo e consequentemente para o Brasil. O desafio é grande, mas temos um grupo muito forte e multidisciplinar que vai conseguir se organizar de forma inovadora para trazer soluções que nosso estado merece”, ressalta Eloísa, que ao longo dos 39 anos de carreira como pesquisadora do Ital especializou-se em embalagens plásticas, com vasta experiência em pesquisa e assistência tecnológica nas áreas de desenvolvimento de embalagem, de avaliação do potencial de interação embalagem/produto e sobre legislação de embalagem e segurança de alimentos. Na área de meio ambiente, coordenou estudos de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de materiais e embalagens e projetos de desenvolvimento de produtos com menor impacto ambiental.

Para Aline Lemos, pesquisadora do Cetea/Ital que está envolvida no projeto, o CCD Circula será um divisor de águas na tratativa dos resíduos pós-consumo. “Seus frutos levarão o estado de São Paulo e o Brasil para um outro patamar em termos de conhecimento, de pesquisa, de aplicação e, sobretudo, de soluções que sejam realmente efetivas”, afirma.

Sanidade para impulsionar piscicultura

Outro projeto aprovado, tendo como instituição-sede o Instituto de Pesca, é o Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Sanidade na Piscicultura. A proposta é voltada a doenças emergentes especialmente na criação de tilápia - espécie mais cultivada no Brasil - e é composta de diferentes frentes de trabalho. “Vamos desenvolver kits para diagnóstico rápido de duas doenças, uma bacteriana e uma viral”, elucida Leonardo Tachibana, pesquisador do IP e um dos coordenadores dos trabalhos, junto a Maria José Tavares Ranzani de Paiva. As enfermidades, cita, são a causada pela bactéria Francisella orientalis e a Necrose Infecciosa do Baço e do Rim (ISKNV), de origem viral. “Também serão feitas vacinas de DNA voltadas à prevenção dessas doenças, uma tecnologia inovadora ainda não disponível no Brasil”, complementa. O projeto contará com investimento total de cerca de R$ 9 milhões.

Tachibana conta que outra frente será a aplicação de técnicas de melhoramento genético de tilápias para aumentar a resistência frente às enfermidades. O impacto conjunto de todas essas ações será viabilizar um pacote tecnológico voltado a impulsionar a cadeia produtiva da tilápia na aquicultura, integrando segurança alimentar, alta qualidade genética, valor agregado e melhoria na sanidade aquícola. “Os trabalhos serão realizados no Centro do Pescado Continental e no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Aquicultura. Teremos, como parceiro da iniciativa privada, a empresa Colpani piscicultura, que irá aportar recursos focados principalmente na área de melhoramento”, relata o pesquisador do IP.

O pesquisador do IP vê os CCDs como algo promissor e muito importante para o desenvolvimento da piscicultura em SP e no Brasil. “É uma atividade coordenada que agrega diversas entidades, entre Universidades, empresas e Institutos de Pesquisa, com montante de recursos expressivo”, conclui Tachibana.

Saúde Única e Sanidade Animal

Proposta aprovada pelo IB, o Centro Plataforma Tecnológica em Sanidade Animal contará com a parceria da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, do Instituto de Economia Agrícola - IEA (ambos da Secretaria de Agricultura), do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em SP/MAPA, Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em MG/MAPA, da Embrapa, de Universidades estaduais paulistas, além de Instituições internacionais de referência junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e Universidade de Kyoto. O foco está na promoção de uma Saúde Única, visando contribuir para o controle mais efetivo dos problemas sanitários que atingem o setor produtivo. “A proposta busca definir os principais biomarcadores para serem aplicados no desenvolvimento e padronização de testes rápidos para diagnóstico de doenças infecciosas de grande relevância em duas cadeias do setor pecuário (bovinos e aves)”, diz a pesquisadora do IB Liria Okuda, que coordena o projeto. “Por meio de abordagens in silico e laboratoriais, a caracterização de biomarcadores será direcionada para doenças virais em bovinos (língua azul) e aves (influenza aviária, doença de Newcastle, laringotraqueíte infecciosa das aves, coronavírus aviário e metapneumovirose aviária)”, agrega. No total, serão investidos no projeto mais de R$ 13 milhões.

Segundo Liria, a análise de custo-benefício dos testes propostos será realizada pelo IEA, bem como a avaliação da viabilidade da aplicação dos métodos junto ao Serviço Oficial do Estado de São Paulo e MAPA. Ela conta que o Centro contará ainda com o Comitê de Parcerias que buscará a inclusão de empresas e startups, trazendo o aporte de investimentos que garantirá a produção e padronização em maior escala dos testes desenvolvidos. “É importante destacar a atuação de empresas privadas no Comitê Executivo do Centro, o que garantirá sua retroalimentação ao longo dos anos”, pontua.

Além disso, o Comitê de Comunicação irá contribuir na divulgação dos resultados alcançados pela Plataforma e na formação de recursos humanos para atuarem no controle e prevenção dos problemas sanitários citados.

“Desta forma pretende-se que este Centro seja capaz de responder às demandas sanitárias relevantes do setor produtivo da pecuária nacional, contribuindo para a vigilância e o controle de doenças infecciosas para bovinos e aves em nosso país”, finaliza a pesquisadora do IB. (Da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo)

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